quarta-feira, 14 de julho de 2010

Poesia & Cia

Os Ninguéns

“As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.


Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.”


(Os Ninguéns, Eduardo Galeano.)



Entre o ser e as coisas 1951 - CLARO ENIGMA Entre o ser e as coisas Onda e amor, onde amor, ando indagando ao largo vento e à rocha imperativa, e a tudo me arremesso, nesse quando amanhece frescor de coisa viva. Às almas, não, as almas vão pairando, e, esquecendo a lição que já se esquiva, tornam amor humor, e vago e brando o que é de natureza corrosiva. N´água e na pedra amor deixa gravados seus hieróglifos e mensagens, suas verdades mais secretas e mais nuas. E nem os elementos encantados sabem do amor que os punge e que é, pungindo, uma fogueira a arder no dia findo.
"Arranca-me os olhos, e ainda te poderei ver. Arranca-me os tímpanos, e ainda te poderei ouvir. Sem pés, ainda poderei caminhar para ti. Sem língua, poderei invocar-te a qualquer hora. Arranca-me os braços, poderei abraçar-te e agarrar-te com o coração, como se a mão fosse. Pára meu coração e meu cérebro baterá com a mesma fidelidade. E se meu cérebro incendiares então em meu sangue te carregarei." Rainer Maria Rilke para Lou Salomé
Eu gosto dos que Ardem
"Eu não gosto do bom gosto Eu não gosto de bom senso Eu não gosto de bons modos Não gosto Eu aguento até rigores Eu não tenho pena dos traídos Eu hospedo infratores e banidos Eu respeito conveniências Eu não ligo pra conchavos Eu suporto aparências Eu não gosto de maus tratos Mas o que eu não gosto é do bom gosto Eu não gosto de bom senso Eu não gosto de bons modos Não gosto Eu aguento até os modernos E seus segundos cadernos Eu aguento até os caretas E suas verdades perfeitas O que eu não gosto é do bom gosto Eu não gosto de bom senso Eu não gosto de bons modos Não gosto Eu aguento até os estetas Eu não julgo a competência Eu não ligo para etiqueta Eu aplaudo rebeldias Eu respeito tiranias Eu compreendo piedades Eu não condeno mentiras Eu não condeno vaidades O que eu não gosto é do bom gosto Eu não gosto do bom senso Eu não gosto de bons modos Não gosto Eu gosto dos que têm fome Dos que morrem de vontade Dos que secam de desejo Dos que ardem…" Adriana Calcanhotto "
Há uma nudez que assombra… e, no ópio dos meus olhos,... há castanhos delírios, insanos desejos ócultos na retina… Há a nudez que fulmina! Tinge de vermelho o meu peito e circula exultante no fluxo do sangue… Há a nudez que ilumina… quando chegas, dissolvem-se as trevas. Os sonhos tecem luz! Albino Santos (Do seu livro "A Evocação do teu nome") "Não quero saber da tua história do que fazes, de tuas taras. Eu quero o silêncio dos teus contornos serpenteando por sobre mim, e os ruídos que porventura tu fizeres, será a mais pura expressão do gozo que detonaste dentro de mim." Silvio Afonso do Blog Palhaço Poeta ( http://palhacopoeta.blogspot.com/).
Meu gozo? ...não sou gozo de surgir de repente, de simples explosão. Não, seria óbvio e simples demais. Nao sou o esteriótipo do que se faz . Sou gozo quando olho querendo, sou gozo ao tirar a roupa, em descontrolar pudores, ao falar no ouvido baixinho, ao beijar suores, em alimentar arrepios, cheirar prazeres. Intensificar sentidos. Não o gozo comum, simples, que surge quase sempre antes do tempo, como um pretensioso Big Bang qualquer. E booom..... Não, Eu o lapido, eu o gemo, eu o misturo. O gozo é plural, é conjunto, é não gozar só. Eu o faço acontecer, gozo não surge, é principio e meio e não fim. É continuidade, é repetiçao, é gozo de tempo certo, é gozo de tempo inteiro, é gozo de noite adentro, é gozo de madrugada afora! Meu gozo, não é só gozar... Maurizio Bersani -
Meus instantes Meus Momentos Inscrição para uma Lareira
A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? Em meios aos toros que desabam, cantemos a canção das chamas!
A CANÇÃO DA VIDA
A vida é louca a vida é uma sarabanda é um corrupio... A vida múltipla dá-se as mãos como um bando de raparigas em flor e está cantando em torno a ti: Como eu sou bela amor! Entra em mim, como em uma tela de Renoir enquanto é primavera, enquanto o mundo não poluir o azul do ar! Não vás ficar não vás ficar aí... como um salso chorando na beira do rio... (Como a vida é bela! como a vida é louca!) Mario Quintana (Esconderijos do Tempo) Cantemos a canção da vida, na própria luz consumida... Mário Quintana
O sexo para o homem e para a mulher
"Um homem jamais pode entender o tipo de solidão que uma mulher experimenta. Um homem se deita sobre o útero da mulher apenas para se fortalecer, ele se nutre desta fusão, se ergue e vai ao mundo, a seu trabalho, a sua batalha, sua arte. Ele não é solitário. Ele é ocupado. A memória de nadar no líquido amniótico lhe dá energia, completude. A mulher pode ser ocupada também, mas ela se sente vazia. Sensualidade para ela não é apenas uma onda de prazer em que ela se banhou, uma carga elétrica de prazer no contato com outra. Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem. Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser. Mas para uma mulher, o climax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela." Anais Nin