terça-feira, 2 de julho de 2013

Carta da médica Juliana Mynssen citada por Gaspari em sua coluna é desabafo feito a partir de uma inverdade

Em sua coluna de hoje, publicada em vários jornais pelo país, o jornalista Elio Gaspari indica a leitura do desabafo de uma médica, Juliana Mynssen da Fonseca Cardoso.

Já o havia lido nas redes sociais. Muitos que não o conhecem vão tratar de conhecê-lo hoje, como o fez o blogueiro Josias de Souza, que o
publicou na íntegra em seu blog.

É desabafo sincero de uma cirurgiã-geral, que vive as dificuldades do dia-a-dia dos hospitais de países em desenvolvimento. (Não só dos países em desenvolvimento.
Nos EUA, paciente entrou em coma num hospital e foi acordar em outro na Polônia).

No texto, ela fala das dificuldades materiais da rede, mas tanto acredita no trabalho desenvolvido que se trata e a familiares por lá.

E tudo continuaria assim se dois acontecimentos não a levassem a escrever o texto:

O primeiro, nas palavras dela:

Nesses últimos dias de protestos nas ruas e nas mídias brigamos por um país melhor. Menos corrupto. Transparente. Menos populista. Com mais qualidade. Com mais macas. Com hospitais melhores, mais equipamentos e que não faltem medicamentos. Um SUS melhor.

Nada que não tenha empolgado a todos nós (não subscrevo o "menos populista", porque sei aonde querem chegar com ele...) que defendemos essas melhorias, e somos solidários à doutora.

Mas, aí vem o segundo acontecimento que a levou ao texto, e a inverdade que coloquei no título. Segunda a doutora, a presidenta Dilma teria dito em seu pronunciamento que iria importar médicos para melhorar a qualidade da medicina no Brasil. Isso a indignou.

Só que... a presidenta Dilma NÃO disse isso nem nada semelhante a isso em seu pronunciamento à Nação. Eis a íntegra das palavras de Dilma sobre o tema saúde naquela ocasião:

O terceiro passo é na questão da Saúde. Quero propor aos senhores e às senhoras acelerar os investimentos já contratados em hospitais, UPAs e unidades básicas de saúde. Por exemplo, ampliar também a adesão dos hospitais filantrópicos ao programa que troca dívidas por mais atendimento e incentivar a ida de médicos para as cidades que mais precisam e as regiões que mais precisam. Quando não houver a disponibilidade de médicos brasileiros, contrataremos profissionais estrangeiros para trabalhar com exclusividade no Sistema Único de Saúde.

Neste último aspecto, sei que vamos enfrentar um bom debate democrático. De início, gostaria de dizer à classe médica brasileira que não se trata, nem de longe, de uma medida hostil ou desrespeitosa aos nossos profissionais. Trata-se de uma ação emergencial, localizada, tendo em vista a grande dificuldade que estamos enfrentando para encontrar médicos, em número suficiente ou com disposição para trabalhar nas áreas mais remotas do país ou nas zonas mais pobres das nossas grandes cidades.

Sempre ofereceremos primeiro aos médicos brasileiros as
vagas a serem preenchidas. Só depois chamaremos médicos estrangeiros. Mas é preciso ficar claro que a saúde do cidadão deve prevalecer sobre quaisquer outros interesses. O Brasil continua sendo um dos países do mundo que menos emprega médicos estrangeiros. Por exemplo, 37% dos médicos que trabalham na Inglaterra se graduaram no exterior. Nos Estados Unidos, são 25%. Na Austrália, 22%. Aqui no Brasil, temos apenas 1,79% de médicos estrangeiros. Enquanto isso, temos hoje regiões em nosso país em que a população não tem atendimento médico. Isso não pode continuar. Sabemos mais que ninguém que não vamos melhorar a saúde pública apenas com a contratação de médicos, brasileiros e estrangeiros. Por isso, vamos tomar, juntamente com os senhores, uma série de medidas para melhorar as condições físicas da rede de atendimento e todo o ambiente de trabalho dos atuais e futuros profissionais.

Ao mesmo tempo, estamos tocando o maior programa da história de ampliação das vagas em cursos de Medicina e formação de especialistas. Isso vai significar, entre outras coisas, a criação de 11 mil e 447 novas vagas de graduação e 12 mil e 376 novas vagas de residência para estudantes brasileiros até 2017.  [
Fonte]

Portanto doutora, por mais que a senhora tenha antipatia à presidenta ("Não tenho palavras para descrever o que penso da ‘Presidenta’ Dilma. (Uma figura que se proclama ‘a presidenta’ já não merece minha atenção)"), se deixar essa antipatia (ou preconceito?) de lado, talvez a doutora descubra na sua área ter mais semelhanças que diferenças com ela.