sexta-feira, 8 de novembro de 2013

PJ Harvey Rid of Me (+playlist)

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Bjork & PJ Harvey perform 'I Can't Get No Satisfaction' | BRIT Awards 1994

http://www.youtube.com/v/kK02kW1mKkk?version=3&autohide=1&showinfo=1&autohide=1&autoplay=1&feature=share&attribution_tag=sq8moMRE5hed2F8qEFZ3jg

O planeta em liquidação. Recriação

 

Luiz Fernando Veríssimo
 
Deus suspirou. Estava cansado. Há bilhões de anos, quando era mais jovem e ambicioso, a idéia de criar um Universo não lhe parecera absurda. Agora se arrependia. O empreendimento fugira ao seu controle.
Não conseguia se lembrar nem de quantas luas tinha Saturno. Estava definitivamente ficando velho.
Olhou em volta da mesa de reuniões. Sua presença naquela Comissão de Recriação era dispensável. Como diretor presidente, tinha a última palavra, mas as decisões eram tomadas pela Sua assessoria. Aqueles jovens tecnocratas pensavam que tinham a resposta para tudo. Queriam tornar o Seu projeto mais moderno e dinâmico. Trabalho mesmo fora o d’Ele. Criara tudo literalmente do Nada. Eles nem eram nascidos. Mas paciência. Precisava acompanhar os tempos. Vetou a proposta do assessor de RP, para que todos se unissem numa oração, e mandou começarem os trabalhos. Odiava o puxa-saquismo.
— Quanto tempo levará a Recriação? — perguntou.
— Bem…
O coordenador hesitou. O Velho, como sempre, queria respostas simples e diretas. Com Ele era tudo luz, luz, trevas, trevas. Mas as coisas não eram mais tão simples. O diretor da Divisão de Obras interveio:
— Precisamos fazer uma análise de custos. Depois, um organograma. Um fluxograma. Um…
— Eu fiz tudo em seis dias — interrompeu o diretor presidente.
— E sozinho. Só descansei no domingo. No meu tempo não existia semana inglesa.
Lá vinha o Velho outra vez com suas reminiscências. Está bem, ninguém negava o Seu valor. Mas o tempo dos pioneiros já passara. Agora era o tempo dos técnicos. Dos especialistas.
— Acho que devíamos começar fechando a Terra — disse o diretor financeiro.
Aquele era um assunto delicado. O Velho tinha uma predileção especial pela Terra. Inclusive por questões familiares. Mas Ele fi cou em silêncio. O diretor fi nanceiro continuou:
— Acho que a Terra já deu o que tinha que dar. Seus recursos estão esgotados. Não é mais rentável. Não há como recuperá-la. Devemos fechá-la antes que comprometa todo o grupo.
— Você quer dizer simplesmente liquidá-la?
— Isso. Nosso representante lá, o papa, receberia uma indenização. Mas não vejo problemas maiores. E teríamos o que descontar do Imposto de Renda.
O assessor de RP mostrou alguma preocupação.
— Em termos de imagem, pegaria mal.
— Por quê? — perguntou o diretor de pesquisa. — Já eliminamos milhões de outros planetas, alguns bem maiores do que a Terra. Não passa um dia em que não explodimos uma estrela.
— Sei não, sei não…
Administrar um Universo é um processo aético, meu caro. Temos um projeto a cumprir, metas a serem alcançadas. Não podemos ficar nos preocupando com cada planetinha…
— O problema foi o tipo de colonização escolhido para a Terra…
— arriscou o diretor financeiro, olhando com o rabo dos olhos para o Velho. — Desde o começo, com aquele casal, já dava para ver que não daria certo…
— Quem sabe — sugeriu o assessor de RP — se refaz a Terra em outros moldes, mais empresariais? Dias mais longos, para aumentar a produtividade. Uma nova injeção de petróleo, para melhorar sua vida útil.
— Esqueça — disse o diretor financeiro. — A Terra não tem mais volta. Foi muito mal administrada. Está falida. Só estaríamos prolongando a sua agonia, com subsídios. Proponho o fechamento. A proposta foi aprovada por maioria. Passaram a discutir o formato que teria o novo Universo. A idéia era aumentar a centralização, acabar com a expansão constante para facilitar a administração e cortar os custos de manutenção… Na cabeceira da mesa, o Velho parecia dormir.
 

Mascara - arte indígena dos povos


 Movimentos      artísticos      importantes
 como Impressionismo, ExpressionismoSurrealismo
  e    Cubismo,    reconhecidos    por    seu    interesse    em
 relação  à   arte   não-ocidental,  sempre   ignoraram
 os     índios     da     floresta     amazônica
 
 
Até pouco tempo atrás, a arte indígena dos povos do assim chamado Novo Mundo não existia nem mesmo para os artistas ocidentais da arte contemporânea do início do século XX. Os impressionantes objetos fruto da visão de mundo dos índios que habitam as Américas, desde a floresta tropical da América do Sul até a América do Norte, eram desvalorizados e pouco conhecidos. De acordo com Peter Roe, os responsáveis por esta atitude são os “cânones míopes” da arte ocidental. Embora imediatamente nos lembremos do grande interesse do Surrealismo em relação à arte indígena, no Novo Mundo seu foco foi mais direcionado aos esquimós do norte do Canadá e Alaska (Max Ernst interessou-se pela arte dos índios das áreas desérticas do sul dos Estados Unidos). Portanto, até mesmo os surrealistas podem ser encaixados na crítica de Roe. Ainda de acordo com ele, infelizmente os materiais utilizados pelos índios da floresta amazônica (sementes, penas, cascas de árvores, cabelo, asas de besouro, dentes de animais), além de perecíveis não se encaixavam nas noções da tradição ocidental - embora também saibamos que a arte africana sofreu o mesmo tipo de resistência, seus materiais eram menos perecíveis. A arte ocidental, Roe insiste, só chamava de “arte” algo que fosse refinado (ouro, prata, pedras preciosas) ou monumental (mármore, baixo-relevos em bronze e esculturas de madeira tridimensionais), e deveria ser estático, fixo e sem utilidade. Em resumo, se não fosse uma estátua de bronze ou mármore, ou uma pintura a óleo com moldura enfeitada, não seria considerado arte (1). (imagem acima, a máscara Ypé [Upé], dos índios Tapirapé, representa os Kayapó e Karajá)

Pornografia e Imagem

Pornografia e Imagem 



"O mais profundo é a pele”
Paul Valéry (1871-1945)

 No que diz respeito ao mundo Ocidental, o século XX mostrou tudo em matéria de arte erótica. Esta é a opinião de Paul Ardenne, para quem as razões podem ser encontradas no impudor da própria arte do século XIX. De A Origem do Mundo (1866), de Gustave Courbet, até Made in Heaven (1990), onde Jeff Koons se mostra com sua então esposa (a atriz pornô Cicciolina) numa cena de sexo, um longo caminho foi percorrido – de fato, as artes pré-cristãs grega e romana talvez fossem até mais explícitas. Forma dissimulada do desejo em ação, a arte cultiva o obsceno que a moral (burguesa) reprova. No âmbito da arte, ou fora dele, a figura erótica se arrisca a banalizar sua exibição (especialmente em tempos de internet) - algo talvez impensável em outros tempos de repressão sexual. A superexposição nos levará ao dia quando o sexo deixará de ser desejável? (que o consumidor desvie o olhar, este seria o pior pesadelo das agências de propaganda!). Se a exibição excita, o exibicionismo pode levar ao efeito inverso (1). Em 1966, Niki de Saint Phalle apresentou Figure Hon (= ela) em Estocolmo. Uma boneca gigante deitada de barriga para cima com uma abertura na vagina, por onde o visitante pode penetrar. Questões simbólicas remetendo ao ventre maternal (e à heterossexualidade) enquanto espaço protetor parecem evidentes. Por outro lado, como sugeriu Gilles Neret a respeito de Figure Hon, o desejo pode ser lúdico (2). (as imagens pertencem ao calendário da empresa de imagem EIZO)A distância entre arte erótica e pornografia tem mais relação com o estilo do que com o tema 


A imagem do “sexo”, mostrar o sexo, não se restringe apenas a imagens de corpos evocando certas situações. Se admitíssemos juntamente com Freud uma dimensão libidinosa da criação artística, toda a arte estaria ligada à sexualidade – a psicanálise faz da arte um efeito da sexualidade. Seja como for, Freud acaba por dessacralizar a criação artística ao torná-la um efeito de outra coisa. O que representa então uma imagem do corpo num sentido estritamente “erótico”? Considerando o sugerido acima, tal questão deixa de ter sentido. Uma natureza morta? Uma paisagem? Um retrato de família? Uma vaca pastando? O pornográfico então acaba sendo apenas uma questão “geométrica”, uma estética purista, uma arrumação sem desejo entre corpo e objetos. De acordo com Ardenne, as fotografias de um Robert Mapplethorpe teriam de “sexual” apenas sua temática. De fato, afirma Ardennes, a imagem “sexual” é uma imagem construída. Ela se torna sexual caso se organize de forma a ativar o desejo: a dimensão espetacular, o potencial atrativo e excitante, a possibilidade de identificação por parte do espectador oferece uma articulação possível com a obra/fotografia/escultura/etc. Atualmente, mais do que nunca, sacrificamos o corpo através do sacrifício à imagem. Consumir a perdição da figura, até que a ausência da materialidade daquilo que ela representa se torne evidente (e nos massacre). Com uma função criminal tanto quanto sacrificial e estética, seria a relação humana com as imagens uma pulsão de morte? (3)

 
 
                                               
Pornografia e Imagem


"O mais
profundo
é a pele”

Paul Valéry (1871-1945)

No que diz respeito ao mundo Ocidental, o século XX mostrou tudo em matéria de arte erótica. Esta é a opinião de Paul Ardenne, para quem as razões podem ser encontradas no impudor da própria arte do século XIX. De A Origem do Mundo (1866), de Gustave Courbet, até Made in Heaven (1990), onde Jeff Koons se mostra com sua então esposa (a atriz pornô Cicciolina) numa cena de sexo, um longo caminho foi percorrido – de fato, as artes pré-cristãs grega e romana talvez fossem até mais explícitas. Forma dissimulada do desejo em ação, a arte cultiva o obsceno que a moral (burguesa) reprova. No âmbito da arte, ou fora dele, a figura erótica se arrisca a banalizar sua exibição (especialmente em tempos de internet) - algo talvez impensável em outros tempos de repressão sexual. A superexposição nos levará ao dia quando o sexo deixará de ser desejável? (que o consumidor desvie o olhar, este seria o pior pesadelo das agências de propaganda!). Se a exibição excita, o exibicionismo pode levar ao efeito inverso (1). Em 1966, Niki de Saint Phalle apresentou Figure Hon (= ela) em Estocolmo. Uma boneca gigante deitada de barriga para cima com uma abertura na vagina, por onde o visitante pode penetrar. Questões simbólicas remetendo ao ventre maternal (e à heterossexualidade) enquanto espaço protetor parecem evidentes. Por outro lado, como sugeriu Gilles Neret a respeito de Figure Hon, o desejo pode ser lúdico (2). (as imagens pertencem ao calendário da empresa de imagem EIZO)





A distância entre arte
erótica e pornografia tem
mais relação com o estilo
do que com o tema




A imagem do “sexo”, mostrar o sexo, não se restringe apenas a imagens de corpos evocando certas situações. Se admitíssemos juntamente com Freud uma dimensão libidinosa da criação artística, toda a arte estaria ligada à sexualidade – a psicanálise faz da arte um efeito da sexualidade. Seja como for, Freud acaba por dessacralizar a criação artística ao torná-la um efeito de outra coisa. O que representa então uma imagem do corpo num sentido estritamente “erótico”? Considerando o sugerido acima, tal questão deixa de ter sentido. Uma natureza morta? Uma paisagem? Um retrato de família? Uma vaca pastando? O pornográfico então acaba sendo apenas uma questão “geométrica”, uma estética purista, uma arrumação sem desejo entre corpo e objetos. De acordo com Ardenne, as fotografias de um Robert Mapplethorpe teriam de “sexual” apenas sua temática. De fato, afirma Ardennes, a imagem “sexual” é uma imagem construída. Ela se torna sexual caso se organize de forma a ativar o desejo: a dimensão espetacular, o potencial atrativo e excitante, a possibilidade de identificação por parte do espectador oferece uma articulação possível com a obra/fotografia/escultura/etc. Atualmente, mais do que nunca, sacrificamos o corpo através do sacrifício à imagem. Consumir a perdição da figura, até que a ausência da materialidade daquilo que ela representa se torne evidente (e nos massacre). Com uma função criminal tanto quanto sacrificial e estética, seria a relação humana com as imagens uma pulsão de morte? (3)