Política





Política

Marcada Para morrer

Geralda Magela da Fonseca, a irmã Geraldinha, pode ser a próxima vítima
do terror imposto pelos latifundiários que querem impedir o avanço da
reforma agrária no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do
país. A única plantação de alimentos que existe em Salto da Divisa é a
do acampamento do MST. No restante das terras, só capim e poucos bois.

A luta pela terra no Brasil ainda representa risco de morte para quem
defende sua divisão. Reforma agrária são duas palavras que quando
conjugadas se tornam malditas nos rincões controlados pelo latifúndio. O
poder dos coronéis é lei nesses lugares. Domina tudo: desde a política
local à rádio que veicula as notícias. Tudo, absolutamente tudo, é
subjugado à lógica de uma oligarquia rural que atravessou séculos
intacta e permanece com praticamente a mesma força discricionária do
passado.

A pequena Salto da Divisa, município localizado no nordeste mineiro do
Vale do Jequitinhonha, é o exemplo gritante dessa realidade. Latifúndio e
terror se conjugam contra aqueles que ousam se levantar em defesa da
reforma agrária. O pavor de retaliações fez com que vários
entrevistados pedissem para não ter os nomes revelados. A reportagem
acatou a solicitação e decidiu atribuir nomes fi ctícios a todos os
entrevistados ligados ao MST, menos a Geralda Magela da Fonseca, a irmã
Geraldinha, ameaçada de morte pelo latifúndio.

A freira dominicana que vive há mais de três anos no acampamento do MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Dom Luciano, onde residem 75
famílias, se transformou no alvo preferencial dos latifundiários. É dela
a principal voz que se ergue para denunciar as arbitrariedades dos donos da
terra na região. A atitude corajosa rendeu a ira dos que teimam em
perpetuar a situação de injustiça.

Irmã Geraldinha convive há meses com o medo de ser assassinada a qualquer
momento. No princípio, as ameaças chegavam pelo celular. Em um único
dia, recebeu três ligações no aparelho. Do outro lado da linha, a pessoa
não identifi cada transmitia sempre a mensagem de morte. O terrorismo
psicológico fez com que a freira quebrasse o chip do celular. Agora poucos
possuem seu novo número, e as ameaças deixaram de ser feitas por via
telefônica. Chegam por companheiros que moram no acampamento e que ouvem
dizer na cidade que ela está marcada para morrer.

No latifúndio brasileiro, ameaça de morte é quase a certeza de
concretização. Foi assim com Chico Mendes, irmã Dorothy Stang, Margarida
Maria Alves e tantos outros que tombaram na luta por justiça social no
campo. Como nos outros casos, o medo não afugentou a freira da
resistência aos poderosos. Apenas a fez mudar seus hábitos Irmã
Geraldinha não repete, por exemplo, o pernoite no mesmo barraco. Alterna o
sono em vários locais dentro do acampamento, para impedir que o inimigo
invada sua casa e a torne presa fácil da morte. A reportagem de Caros
Amigos acompanhou a via crucis da freira durante quatro dias. Dividiu com
ela, inclusive, os mesmos barracos.

Estado de tensão

Um acontecimento em particular deixou a freira temerosa de que um eventual
atentado pudesse ocorrer. Era noite, e a informação de uma companheira do
acampamento, que havia visto um feixe de luz vindo do mato próximo do
local onde foram erguidos os barracos, deixou a irmã Geraldinha
apreensiva. Olhares mais atentos não identifi caram o alerta, mas também
não conseguiram tranqüilizar a irmã. Qualquer barulho do lado de fora do
barraco era motivo para um sobressalto sobre o colchão.

A ausência de iluminação, o único ponto de energia elétrica no
acampamento é o do centro comunitário que também é a única
construção em alvenaria, joga contra a segurança dela. A noite sem luar
torna o ambiente sombrio. Nos barracos, com paredes feitas de folhas de
coqueiro ou de taipa (barro prensado entre canas de bambu) e cobertura com
a tradicional lona preta, apenas a luz das velas, que se acendem e se
apagam rapidamente para neutralizar o alvo de possíveis ataques.

O esquema de segurança do MST no acampamento foi reforçado desde que a
freira passou a sofrer ameaças. Na entrada do acampamento da Fazenda Manga
do Gustavo, localizada a aproximadamente 6 km da cidade, uma corrente de
ferro impede a passagem dos carros que se aproximam. Ali, há sentinelas 24
horas por dia. Mas os únicos instrumentos de proteção de que os
vigilantes dispõem para combater uma eventual invasão de agressores são
alguns foguetes, que serão prontamente disparados para mobilizar os
companheiros que vivem no acampamento e atrair a atenção da polícia na
cidade.

As mulheres participam do turno das 6h às 18h, os homens assumem a partir
das 18h e vão até a manhã do dia seguinte. De uma em uma hora, o turno
é trocado. Ninguém passa pela portaria sem a autorização da segurança,
mas as condições geográficas da área não ajudam no trabalho. Por se
tratar de uma fazenda, há inúmeros pontos vulneráveis dos quais os
possíveis assassinos podem se valer, para chegar a pé ao local.

À noite, a segurança é reforçada por uma equipe de 24 homens que cuidam
da vigilância da área. Além da portaria, uma ronda percorre o
acampamento com lanternas para verifi car se não há invasores que
coloquem em risco a vida da freira. A segurança dos companheiros que
dividem o acampamento com ela é a única proteção que irmã Geraldinha
tem durante a noite. De dia, além da segurança dos sem-terra, a Polícia
Militar também vai ao acampamento, de duas a três vezes, conversa com a
religiosa e retorna à cidade.

“A nossa proteção é de 24 horas”, frisa Daniel Monteiro, chefe da
segurança do acampamento, para destacar a importância do trabalho
desempenhado pelos acampados na proteção à freira.

O comando do policiamento militar da cidade foi trocado recentemente. O
sargento Clóvis Bonfim de Morais é o novo responsável pela área. Veio
do município de Teófilo Otoni e traz no braço o brevê de direitos
humanos. “Só quem tem muita formação na área (de direitos humanos)
usa o brevê”, comenta. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
da República interveio para mudança no policiamento em Salto da Divisa,
segundo o coordenador do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos
Humanos, Fernando Matos.

Antes, o poder fardado não falava em direitos humanos e era caudatário
dos interesses do latifúndio. Nem mesmo o ataque de um grupo que tentou
incendiar o acampamento do MST demoveu os policiais de uma ação
contrária aos acampados.

Rotina de ameaças

“Hoje vou comer bolo na sua casa”, dizia a voz de um homem que se
identificou como Ilton Guimarães, ex-vereador e muito próximo aos
latifundiários da cidade. Ele ligou para o celular da acampada Cristina
Soares, no dia 27 de julho, um dia após a eleição para a Prefeitura de
Salto da Divisa e que deu a vitória a Ronaldo Athayde da Cunha Peixoto
(DEM). A eleição aconteceu fora de época devido à cassação pelo TRE
do prefeito anterior. Ronaldo faz parte de uma das duas famílias que
dominam as terras da região.

O número oculto registrado no identificador de chamadas impediu que
Cristina soubesse de onde partira a ligação. A frase, aparentemente sem
sentido, ganharia lógica no dia seguinte, 28 julho. Um grupo de quatro
homens, em um carro, atearia fogo no acampamento do MST. O incêndio foi
detectado a tempo pelos acampados e não se propagou.

Dentro do automóvel, estavam Ilton Ferreira Guimarães, Paulo Roberto
Inácio da Silva, seu filho Daniel Salomão Silva e Genilton Menezes
Santos, cunhado de José Alziton da Cunha Peixoto, primo do prefeito eleito
e presidente da Fundação Tinô da Cunha, a quem pertencem as terras da
Fazenda Manga do Gustavo, onde estão acampados os sem-terra, além da
Fazenda Monte Cristo, que os trabalhadores rurais haviam ocupado
inicialmente e onde pretendem ser assentados pelo Incra.

Paulo Roberto é o locutor da Rádio Aracuã, controlada pela família
Cunha Peixoto. A rádio é uma das trincheiras de ataque da família contra
a freira e o MST. Irmã Geraldinha é chamada de bruxa por Paulo Roberto.
Ele também xinga as mulheres sem-terra de vagabundas, além de afirmar que
o acampamento é local de prostituição.

A conivência do antigo policiamento com a prática truculenta dos
latifundiários se evidenciou na condução do caso. Os policiais demoraram
horas para atender ao pedido de socorro, segundo relato dos acampados.
Além disso, quando chegaram, inverteram a situação contra os sem-terra,
que de vítimas, passaram a réus. O boletim de ocorrência registrado
pelos policiais militares coloca a freira, que nem estava no local no
momento do incidente, como sendo responsável por seqüestro e cárcere
privado dos quatro homens.

Para desfazer a mentira, irmã Geraldinha teve de viajar 50 km até
Jacinto, cidade mais próxima a Salto da Divisa, com delegacia de polícia,
para registrar um boletim de ocorrência relatando o que de fato havia
ocorrido. Mas o município de Jacinto não está imune ao poder da família
Cunha Peixoto. O Fórum da cidade carrega o nome do pai de José Alziton da
Cunha Peixoto.

A pressão contra a freira se intensifi cou a partir de 28 de outubro, logo
após a realização de uma audiência contra o falso boletim de
ocorrência da PM, que a transformava em sequestradora. No dia 30, um
automóvel marca Corsa aparece próximo à entrada do acampamento. Nesse
dia, a freira estava na cidade e voltaria sozinha de ônibus para o
acampamento. Desceria na estrada e enfrentaria uma longa caminhada até os
barracos. Certamente cruzaria com o carro que estava na tocaia. Mas o frei
capuchinho Emílio Santi Piro, padre da cidade, achou perigoso ela voltar
de ônibus e emprestou o seu carro. A solidariedade cristã permitiu que
ela cruzasse o ponto de encontro, antes que o veículo que esperava por ela
chegasse. Quando irmã Geraldinha recebeu um telefonema informando que um
carro estava na tocaia à sua espera, ela já estava no acampamento.

O mesmo veículo foi visto posteriormente na cidade: o motorista queria
saber se a irmã estava no município. Na sequência, em 1º de novembro, a
freira recebeu os três telefonemas a ameaçando de morte e resolveu
quebrar o chip para atenuar a tormenta.

Pelo menos dois homens que já ameaçaram a freira várias vezes são
conhecidos: são dois exsem- terra que foram expulsos do movimento pelos
acampados porque eram violentos. Admilson e Caboclo passaram a trabalhar na
administração do prefeito Ronaldo. Um é fiscal da varrição de ruas, o
outro vigia em uma escola.

Coronelismo

José Alziton é outro que persegue os sem-terra desde o primeiro dia em
que o acampamento foi formado. Irmã Geraldinha conta que logo após os
sem-terra terem realizado a ocupação, Alziton apareceu na fazenda com
duas armas na cintura, fazendo questão de mostrá-las e gritando que
aquela fazenda era sua. “Quem mandou vocês entrarem, isso aqui é
meu!”, afirmava, furioso. Ao que os sem-terra respondiam em coro: “MST,
a luta é pra valer”.

Alziton não é o dono da fazenda ocupada. Ele presidia, até maio deste
ano, o conselho da Fundação Tinô da Cunha, proprietária da Fazenda
Manga do Gustavo e Monte Cristo, mas foi afastado do cargo por má
administração. Em seu lugar, o Ministério Público nomeou um
interventor. Além de Alziton, o prefeito Ronaldo também fazia parte do
conselho da Fundação.

Os recursos gerados pelas duas fazendas, e por mais três propriedades que
pertencem à Fundação deveriam custear os gastos do único hospital da
cidade que atendia à população. Os recursos desapareceram e
aproximadamente 2 mil cabeças de gado sumiram do pasto. As dívidas com o
INSS atingem a cifra de quase 2 milhões de reais, segundo o promotor de
Justiça da Comarca de Jacinto, Bruno César Medeiros Jardini. “O
hospital era utilizado para fazer política, angariar votos, mas o
atendimento era precário”, critica o promotor.

O hospital praticamente fechou as portas, só atende casos de urgência. O
prefeito não revela para a reportagem que fazia parte do conselho da
Fundação Tinô da Cunha, responsável pela administração do hospital.
Antes da eleição que o levou ao cargo de prefeito, o primo José Alziton
chegou a encaminhar petição ao juiz da Comarca de Jacinto para se manter
à frente da Fundação, argumentando que a posse de Ronaldo reduziria o
problema financeiro do hospital. O prefeito Ronaldo nega à Caros Amigos
que pretenda destinar recursos da prefeitura para o hospital.

No entanto, ele tentou confundir a reportagem ao afirmar que a prefeitura
pagava o salário de três médicos que atendiam no hospital. “O hospital
está funcionando porque a prefeitura está pagando três médicos.” Na
verdade, os médicos pagos pela prefeitura não atendem no hospital, mas na
unidade básica de saúde. “Ficam de plantão no celular”, reconhece o
prefeito. Ele não sabe explicar como ocorre a convocação dos médicos
pelo celular, quando alguém passa mal. O hospital só atende casos de
urgência. O prefeito nem ao menos sabe quantos enfermeiros trabalham no
local. “Saúde é uma coisa muito cara”, afirma o prefeito, que tem um
salário mensal de 8 mil reais.

Fonte: Revista Caros Amigos

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IMPORTANTÍSSIMO SABER

EM ALGUNS LUGARES ELA JÁ NÃO EXISTE MAIS...

Delhi - Índia. Todos querem apenas um pouco de água...
Dois sudaneses bebem água do pântanos com tubos plásticos, especialmente concebidos para este fim,com filtro para filtrar as larvas flutuantes responsáveis pela enfermidade da lombriga de Guiné.O programa distribuiu milhões de tubos e já conseguiu reduzir em 70% esta enfermidade debilitante.

Os glaciais que abastecem a Europa de água potável perderam mais da metade do seu volume no século passado. Na foto, trabalhadores da estação de esqui do glacial de Pitztal, na Áustria, cobrem o glacial com uma manta especial para proteger a neve e retardar seu derretimento durante os meses de verão...

As águas do delta do rio Níger são usadas para defecar, tomar banho, pescar e despejar o lixo.


Água suja em torneiras residenciais, devido ao avanço indiscriminado do desenvolvimento.


Aldeões na ilha de Coronilla, Kenya, cavam poço profundos em busca
do precioso líquido, a apenas 300 metros do mar. A água é salobra.


Aquele que foi o quarto maior lago do mundo, agora é um cemitério poeirento de embarcações que nunca mais zarparão...

VALORIZE A ÁGUA!

EM ALGUNS LUGARES ELA NÃO EXISTE MAIS...



Você é ético?

Este é um teste para auto-avaliação.

Responda a pergunta final com sinceridade e então poderá

avaliar sua moral.

Trata-se de uma situação imaginária. Você deve decidir sobre uma atitude a ser tomada baseada em duas alternativas possíveis.

Caso:

Você está em São Paulo , em meio aos terríveis momentos de enchentes que normalmente ocorrem na cidade .

Sendo você um repórter fotográfico que trabalha para a CNN e está desesperado em meio ao caos (pessoas pedindo socorro, carros sendo arrastados pela correnteza) e tirando as fotos mais impactantes.

A água cobre a principal via de trânsito e envolve pessoas e veículos. de repente, em meio ao caos, você vê naquele carrão o FHC,

o Serra, o Alckmin e o Kassab.

Eles lutam, desesperadamente, para não serem arrastados pela correnteza, que segue direta para um enorme buraco que a tudo engole, entre lama, lixos, pedras. E eles estão sendo arrastados inexoravelmente. Você tem a oportunidade única de resgatá-los.

Mas tem também a oportunidade única de tirar uma fotografia jornalística, seguramente ganhadora do Prêmio Puzlitzer, que te faria famoso no mundo inteiro, ao mostrar o flagrante inédito DA MORTE de tão famosos políticos.

Não dá para titubear e nem fazer as duas coisas: salvar e fotografar.

Pergunta:

Baseado em seus princípios éticos e morais, na fraternidade e solidariedade humanas, que devem ser o forte das pessoas generosas, responda sinceramente:

VOCÊ FARIA A FOTO EM PRETO E BRANCO OU COLORIDA?



As melhores cantadas de pedreiros


1. Ocê é o ovo que faltava na minha malmita.

2. Eu bebia o mar se ocê fosse o sal.

3. Não sabia que fror nascia no asfaltu.

4. Tô fazenu uma campanha de doação de órgãos! Quer o meu?

5. Nossa, ocê é tão linda que não caga, lança bombom! Ocê num peida, solta prefumi! Ocê num arrota, evapora xero di banquete!

6. Ohhh... essa muié e mais um saco de bolacha, eu passo um mês...

7. Ocê é sempre assim, ou tá fantasiada de gostosa?

8. Ocê é a areia do meu cimentu.

9. Ahhh se eu pudesse e meu dinheiro desse!

10. Suspende as frita.... o filé já chegou!

11. Ocê num usa calcinha, ocê usa porta-jóia.

13. O que que esse bombonzinho está fazendo fora da caixa??

14. Ocê num é pescoço mais mexeu com a minha cabeça!

17. Ocê é a lua de um luau.... Quando te vejo só digo - uau uau!

18. Nossa, quanta carne.... e eu lá em casa comendo ovo!

19. Essa sua brusa ia ficá ótima toda amassada no chão do meu barraco amanhã de manhã!

20. Se ocê fosse um sanduíche teu nome ia ser X-Princesa...




COMO EXPLICAR SEM OFENDER...

Um homem de 89 anos estava fazendo seu check-up anual. O médico

perguntou como ele estava se sentindo:

- Nunca me senti tão bem - respondeu o velho. Minha nova esposa tem 18

anos e está grávida, esperando um filho meu. Qual a sua opinião a

respeito, doutor?

O Médico refletiu por um momento e disse:

- Deixe-me contar-lhe uma estória: eu conheço um cara que era um

caçador fanático, nunca perdeu uma estação de caça. Mas, um dia, por

engano, colocou seu guarda-chuva na mochila em vez da arma. Quando

estava na floresta, um urso repentinamente apareceu na sua frente. Ele

sacou o guarda-chuva da mochila, apontou para o urso e...

BANG............... o urso caiu morto.

- HA! HA! HA! Isto é impossível - disse o velhinho - algum outro

caçador deve ter atirado no urso.

- Exatamente!!!

- Você é muito inteligente!!!



ESTADO DE ESPÍRITO


Contradizer-se: que luxo!

(Jean Cocteau)

Quando você está solteira, você deseja um namorado bacanérrimo, inveja todos os casais que vê pela frente, fica com um monte de caras cheirosos, deliciosos e canalhas (na sua opinião), sai pra lá e pra cá com suas amigas malucas que obviamente te divertem e acaba (depois de quatro doses a mais) com um discurso manjado de como está difícil achar alguém legal pra dividir a vida, dividir os medos, o café da manhã, as contas e o tédio de domingo.

E o blábláblá não acaba…

Nós somos poderosas, evoluídas, revolucionárias, os pobres-coitados são sempre culpados. E vamos descer a lenha: tem que ser muito homem pra ficar com uma mulher como você, independente, linda, engraçada, com texto forte, personalidade e corpão.

Mentira minha?

Tire a culpa da sua bolsa, jogue em cima do rapaz, cara paleozóico, que só quer uma figura dócil para afirmar sua masculinidade, fazer bonito na frente dos outros e poder dispensar as outras lindas e interessantes que aparecerem (logicamente, depois de beijar e iludir cada uma) com a frase mais usada no mundo: “sabe o que é? Eu tenho namorada!”.

“Hã?”, você pergunta incrédula. O canalha tem namorada.

E você chora pelo babaca, diz que os homens são todos iguais, nunca mais vai se apaixonar de novo (mesmo que tenha um Santo Antônio escondido em casa), se embola com namoros virtuais e não entende porque só atrai gente problemática.

Você se reconheceu em alguma palavra até aqui? Sinto dizer, é a vida.

Mas como o mundo dá voltas e um dia é da caça e o outro (oba!!) do caçador, uma certa hora todo esse material maravilhoso que você é se depara com uma pessoa incrível que te faz acreditar que amor não é marketing, nem invenção de Shakespeare.

E você se sente abençoada, agradece aos céus por achar um cara tão sensível e vocês vivem felizes para sempre.

Felizes e apaixonados até constatarem o óbvio: ninguém é perfeito.

Aí meu bem, começa um outro discurso. Nem melhor nem pior, mas diferente.

É reclamação que não acaba, a velha saudade da vida de solteira que bate, aquele defeito charmoso dele agora faz você ficar louca. Louca, não, louquíssima.

E você sente falta de acordar sozinha, sente falta do seu espaço, sente falta das suas amigas e das noites divertidas e vazias que vocês passavam (lógico que não eram vazias, vocês tinham umas às outras!), sente falta de não ter que ligar e dar explicação de onde você estava e o pior: começa a achar graça naquele cara que você nunca achou a menor graça.

Mentira minha? Pois é.

Solteiros, casados, juntados, a questão não é o estado civil, mas a sensação que volta-e-meia volta: nunca estamos satisfeitos.

A vida é feita de escolhas e em cada escolha há uma perda. E perder dói.

Se você se sente plenamente realizado todos os dias com alguém que você convive há muito tempo (namoros à distância e paixões tumultuadas não estão em questão), parabéns, eu não conheço ninguém igual a você.

Porque não é fácil ficar sozinho, não é fácil viver com alguém, mesmo que seja o grande amor da sua vida.

Conviver é uma arte complicada. Haja tolerância, paciência e jogo de cintura para agüentar nossos defeitos e os do outro.

Viver sozinho também não é mole. Haja sabedoria para estar só e se sentir sempre em paz.

Mas como nada nunca é perfeito, penso que a única saída é aproveitar cada momento (independente do estado civil que você se encontre) e aceitar a realidade como um presente.

Porque perfeito mesmo só a imperfeição. Que faz ter sentido até o que não se explica.



- SE VOCÊ ACHA QUE ZERO A ESQUERDA NÃO VALE NADA, ENTÃO LEIA ESSA...Cuidado com o Zero ele vale muito kkkkkkk



Uma executiva de uma grande empresa, faz a sua primeira viagem de negócios para

o Rio de Janeiro. À noite sentiu-se sozinha e com uma sensação de liberdade que

nunca havia sentido antes.. Decidiu chamar uma dessas "empresas de

acompanhantes", cujos folders de propaganda estão nas mesas dos quartos de

todos os hotéis nas grandes cidades. Localizou, sem dificuldade, um que

oferecia serviço masculino, denominado "ferótico".

Com o encarte nas mãos molhadas de suor pela expectativa discou o número

marcado

- Alô! atendeu uma voz masculina marcadamente sensual.



- Alô. Eu preciso de uma massagem... Não, espera ! Na realidade o que eu quero é

SEXO! Uma grande e duradoura sessão de sexo, mas tem de ser agora! Estou falando

sério! Quero que dure a noite inteira! Estou disposta a fazer de tudo,

participar de todas as fantasias que vocês inventarem. Traga tudo o que tiver

de acessórios, algemas, chicotes, dildos, pomadas, vibradores! Vamos começar passando geléia no

corpo um do outro, quero que

você me grude na parede... estou disposta a fazer de tudo e topo todas as

posições: frango assado, rã com câimbra, canguru perneta, folhinha-verde, vaca

atolada, saquinho de chá, helicóptero... Ou tu tens alguma idéia a mais? O

que tu achas?!

- Bem, na verdade me parece fantástico. Mas aqui é da portaria do hotel... Para

chamadas externas a senhora precisa discar o número zero primeiro!!!....



01) Como se chama uma mulher que sabe onde seu marido está todas as noites?


R : Viúva.

02) Como se chama um homem inteligente, sensível e bonito?

R.: Boato.

03) O que deve fazer uma mulher quando seu marido corre em zigue-zague

pelo jardim?

R.: Continuar a atirar!

> 04) Por que os homens não têm período de crise na idade madura?

R.: Porque nunca saem da adolescência.


05) Qual é o ponto comum entre os homens que frequentam bares para solteiros?

R.: Todos eles são casados.

06) Por que as mulheres não querem mais se casar?

R.: Porque não é justo! Imagine: por causa de '100 gramas de lingüiça'

ter que levar o porco inteiro!

07) Qual a semelhança entre o homem e o microondas?

R.: Aquecem em 15 segundos!

08) Qual a semelhança entre o homem e o caracol?

R.: Ambos têm chifres, babam e se arrastam. E ainda pensam que a casa é deles!
09) Por que não existe homem inteligente, sensível e bonito ao mesmo tempo?

R.: Seria mulher!

10) Quando um homem mostra que tem planos para o futuro?

R.: Quando ele compra 2 caixas de cerveja.

11) Por que mulheres casadas são mais gordas do que as solteiras?

R.: A solteira chega em casa, vê o que tem na geladeira e vai pra

cama. Já a casada vê o que tem na cama e vai pra geladeira.

12) O que disse Deus depois de criar o homem?

R.: Tenho que ser capaz de fazer coisa melhor...

13) O que disse Deus depois de criar a mulher?

R.: A prática traz a perfeição!



"Ler pode tornar o homem perigosamente humano!"


GRAMMONT, Guiomar de. In: PRADO, J. e CONDINI, P. (Orgs.).

A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. p. 71-73.

LULA (Aquele q não entende nada d nada!)



Pedro Lima

(Economista e Professor da UFRJ)



Lula, que não entende de sociologia, levou 32 milhões de

miseráveis e pobres à condição de consumidores;

e que também não entende de economia; pagou as contas de FHC,

zerou a dívida com o FMI e ainda empresta algum aos ricos

Lula, o analfabeto, que não entende de educação, criou mais

escolas e universidades que seus antecessores juntos [14

universidades públicas e estendeu mais de 40 campi], e ainda criou o

PRÓ-UNI, que leva o filho do pobre à universidade [meio milhão de

bolsa para pobres em escolas particulares].



Lula, que não entende de finanças nem de contas públicas,

elevou o salário mínimo de 64 para mais de 291 dólares [valores de

janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC.

Lula, que não entende de psicologia, levantou o moral da

nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo. Embora o

PIG-Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que não.



Lula, que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de

nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país

à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior programa de

energia alternativa ao petróleo do planeta].

Lula, que não entende de política, mudou os paradigmas

mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes,

passou a ser respeitado e enterrou o G-8 [criou o G-20].



Lula, que não entende de política externa nem de

conciliação, pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a

ALCA, olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos

da América Latina, onde exerce

liderança absoluta sem ser imperialista. Tem fácil trânsito

junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc. Bobo que é, cedeu a tudo e a

todos.



Lula, que não entende de mulher nem de negro, colocou o

primeiro negro no Supremo (desmoralizado por brancos) uma mulher no

cargo de primeira ministra, e que pode inclusive, fazê-la sua

sucessora.

Lula, que não entende de etiqueta, sentou ao lado da rainha (a

convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.



Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de

Keynes, criou o PAC; antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é

hora de o Estado investir; hoje o PAC é um amortecedor da crise.

Lula, que não entende de crise, mandou baixar o IPI e levou a

indústria automobilística a bater recorde no trimestre [como

também na linha branca de eletrodomésticos].



Lula, que não entende de português nem de outra língua, tem

fluência entre os líderes mundiais; é respeitado e citado entre as

pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual [o melhor do mundo

para o Le

Monde, Times, News Week, Financial Times e outros...].



Lula, que não entende de respeito a seus pares, pois é um

brucutu, já tinha empatia e relação direta com George Bush -

notada até pela imprensa americana - e agora tem a mesma empatia com

Barack Obama.



Lula, que não entende nada de sindicato, pois era apenas um

agitador;.. é amigo do tal John Sweeny [presidente da AFL-CIO -

American Federation Labor-Central Industrial Congres - a central de

trabalhadores dos Estados Unidos, que lá sim, é única...]e entra

na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto com o Tio

Sam lá, nos "States".



Lula, que não entende de geografia, pois não sabe interpretar

um mapa é autor da [maior] mudança geopolítica das Américas [na

história].



Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois

nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e se

torna interlocutor universal.



Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um

locutor de bravatas; faz história e será lembrado por um grande

legado, dentro e fora do Brasil.



Lula, que não entende nada de conflitos armados nem de guerra,

pois é um pacifista ingênuo, já é cotado pelos palestinos para

dialogar com Israel.

Lula, que não entende nada de nada;.. é bem melhor que todos

os outros...!



Pedro Lima *


Economista e professor de economia da UFRJ







"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."



SARAMARGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Cia das Letras, 1995. p. 262









ALTERIDADE, SUBJETIVIDADE E GENEROSIDADE
Frei Betto
A dificuldade, dentro da ótica neoliberal, é trabalhar a dimensão da alteridade. O que é alteridade? É ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem.

A nossa tendência é colonizar o outro, ou partir do princípio de que eu sei e ensino para ele. Ele não sabe. Eu sei melhor e sei mais do que ele. Toda a estrutura do ensino no Brasil, criticada pelo professor Paulo Freire, é fundada nessa concepção. O professor ensina e o aluno aprende. É evidente que nós sabemos algumas coisas e, aqueles que não foram à escola, sabem outras tantas, e graças a essa complementação vivemos em sociedade
Possivelmente, a cozinheira do meu convento sabe muitas coisas que não sei, e eu sei muitas coisas que ela não sabe. Mas se pesar na balança, e perguntar quem pode prescindir do conhecimento do outro, tenho certeza de que não posso prescindir da culinária dela para sobreviver. E ela, seguramente, pode prescindir da minha filosofia e teologia para sobreviver.

Numa sociedade de tamanho apartheid social como a brasileira, predomina a concepção de que aqueles que fazem serviço braçal não sabem. No entanto, nós que fomos formados como anjos barrocos da Bahia e de Minas, que só têm cabeça e não têm corpo, não sabemos o que fazer das mãos. Passamos anos na escola, saímos com Ph.D., porém não sabemos cozinhar, costurar, trocar um equipamento elétrico em casa, identificar o defeito do automóvel... e nos consideramos eruditos. E o que é pior, não temos equilíbrio emocional para lidar com as relações de alteridade. Daí por que, agora, substituíram o Q.I. para o Q.E., o Quociente Intelectual para o Quociente Emocional. Por quê? Porque as empresas estão constatando que há, entre seus altos funcionários, uns meninões infantilizados, que não conseguem lidar com o conflito, discutir com o colega de trabalho, receber uma advertência do chefe e, muito menos, fazer uma crítica ao chefe.


Bem, nem precisamos falar de empresa. Basta conferir na relação entre casais. Haja reações infantis...

Quem dera que fosse levada à prática aquela idéia de, pelo menos a cada três meses, cada setor de trabalho da empresa fazer uma avaliação, dentro da metodologia de crítica e autocrítica. E que ninguém ficasse isento dessa avaliação. Como Jesus um dia fez, ao reunir um grupo dos doze e perguntar: “O que o povo pensa de mim?” E depois acrescentou: “E o que vocês pensam de mim?”


Quem de nós é capaz disso? Sempre acho que o outro pensa de mim aquilo que eu gostaria que pensasse. E morro de medo de ele falar aquilo que realmente pensa. Por isso mantenho o meu ego aprumado, pois, se ele falar, verei no olhar dele uma imagem que não é aquela que eu gostaria de projetar.

A questão da alteridade é séria. Não temos mais alteridade com a natureza. Essa é uma perda irreversível da nossa civilização. Não sei se um dia será resgatada, duvido muito. A nossa relação com a natureza é de sujeito para objeto. Só temos relação de sujeito a sujeito, como o índio tem, até os cinco anos de idade. Veja o exemplo de uma criança lidando com um cachorro bravo. Ela monta no cachorro como se fosse cavalo, enfia a mão na boca, sem risco, porque o cachorro percebe que a relação é de alteridade. É de sujeito para sujeito.


A partir dos cinco anos, perdemos a alteridade frente ao animal e ele percebe. A relação passa a ser de sujeito para objeto. O índio não. Ele mantém com a árvore, o rio, a mata, uma relação de sujeitado para sujeito. Daí a dificuldade dos teólogos cristãos de entenderem. "Ah, isso é animismo, isso é superstição". Não, isso é relação de alteridade. Ou seja, o outro é tão sagrado e dotado de dignidade e direitos quanto eu.


Eis a dificuldade que temos de entender o outro na sua dimensão. Mesmo nas filosofias progressistas, há sempre alguém marginalizado. O marxismo, por exemplo, convoca a classe trabalhadora como sujeito histórico, mas não os índios, não os desempregados, que no século passado eram chamados de lumpemproletariado. Em todas as culturas há sempre um setor secundário, considerado objeto, não sujeito histórico.


Quem, a meu ver, na cultura ocidental, melhor enfatizou a radical dignidade de cada ser humano, inclusive a sacralidade, foi Jesus. O sujeito pode ser paralítico, cego, imbecil, inútil, pecador, mas ele é templo vivo de Deus, é imagem e semelhança de Deus. Isso é uma herança da tradição hebraica. Todo ser humano, dentro da perspectiva judaica ou cristã, é dotado de dignidade pelo simples fato de ser vivo. Não só o ser humano, todo o Universo. Paulo, na epístola aos romanos, assinala: “Todo a Criação geme em dores de parto por sua redenção". Os católicos rezam no Credo "creio na ressurreição da carne". Hélio Pellegrino dizia que não há nada mais revolucionário do que proclamar a ressurreição da carne. Portanto, a ressurreição não é do espírito. A carne representa a materialidade do Universo.


Não podemos, pois, partir do princípio de que isso aqui é o fim da história, como quer Fukuyama, ideólogo do neoliberalismo. A nossa humanidade é muito recente, neste Universo de 15 bilhões de anos. Há apenas 2 milhões de anos apareceu o ser humano. É absurdo achar que esse modelo neoliberal de sociedade é definitivo. Basta dizer que um fator tão natural e elementar, como a necessidade animal de comer, ainda é privilégio entre os 6 bilhões de habitantes do planeta. Sobretudo no Brasil. Aqui o escândalo é maior. Estamos entrando no século XXI, convivendo com a fome num país que tem potencial de três colheitas por ano. Os europeus estão vindo plantar uva em Pernambuco, porque em nenhum lugar da Europa dá, como ali, duas ou três safras de uva por ano. Somos o maior produtor mundial de frutas, o sexto produtor mundial de alimentos, e possivelmente o único país do planeta, com dimensão continental, sem nenhuma catástrofe natural. Não temos furacão, ciclone, maremoto, vulcão ou deserto. Nosso único problema é que não temos governo. Por culpa nossa, que votamos mal.


Nossas concepções éticas são forjadas por um processo social onde o capital, um bem finito, tem mais prioridade do que os bens infinitos - a dignidade, a ética, a liberdade, a paz, a experiência espiritual etc.


Estamos perdendo a vida interior, e entrando em outra anomalia, a hipertrofia do olhar e a atrofia do escutar. Estamos perdendo a experiência do silêncio. A perda da experiência do silêncio é a perda da possibilidade de encontro consigo mesmo. Quanto menos apreensão tenho do meu ser, mais dependente fico do meu ter. A ponto de a relação ser humano-mercadoria-ser humano se inverter. Passa a ser mercadoria-ser humano-mercadoria. Se chego na sua casa de BMW, tenho um valor A. Se chego de ônibus, eu tenho um valor Z. Sou a mesma pessoa, mas a mercadoria que reveste o meu ser humano passa a ter mais valor do que eu, e passa a me imprimir valor. É a síndrome da grife. O bem que eu porto é que imprime valor à minha qualidade como ser humano.

Dentro desse quadro, o desafio que se coloca para nós é como transformar essas cinco instituições pilares da sociedade em que vivemos: família, escola, Estado (o espaço do poder público, da administração pública), Igreja (os espaços religiosos) e trabalho. Como torná-los comunidades de resgate da cidadania e de exercício da alteridade democrática? O desafio é transformar essas instituições naquilo que elas deveriam ser sempre: comunidades. E comunidades de alteridade.

Aqui entra a perspectiva da generosidade. Só existe generosidade na medida em que percebo o outro como outro e a diferença do outro em relação a mim. Então sou capaz de entrar em relação com ele pela única via possível – porque, se tirar essa via, caio no colonialismo, vou querer ser como ele ou que ele seja como sou - a via do amor, se quisermos usar uma expressão evangélica; a via do respeito, se quisermos usar uma expressão ética; a via do reconhecimento dos seus direitos, se quisermos usar uma expressão jurídica; a via do resgate do realce da sua dignidade como ser humano, se quisermos usar uma expressão moral. Ou seja, isso supõe a via mais curta da comunicação humana, que é o diálogo e a capacidade de entender o outro a partir da sua experiência de vida e da sua interioridade.


A nossa identidade é construída pela nossa história. A minha história é a minha história, e ninguém terá uma história idêntica à minha. E é isso que faz a minha identidade.


Quando eu estava preso na ditadura, vivi uma experiência pela qual nunca passei antes nem depois. Foi tão marcante, que nunca mais esqueci, e talvez isso me faça entender um pouco melhor os povos indígenas hoje, porque eles, com muita freqüência, vivem essa experiência.


Fiquei algumas semanas privado da possibilidade de ver o meu rosto num espelho. É uma experiência terrível: não se ver no espelho. E cheguei a uma conclusão que me pareceu absurda, mas que pode ser constatável por qualquer pessoa. Nenhum de nós, por mais que se olhe no espelho ao longo da vida, guarda a memória das suas feições. Sei como você é porque estou olhando-o agora, mas você não sabe como são as suas feições, a não ser quando se olha no espelho. É como se a natureza quisesse nos dizer que fomos feitos para olhar o outro, e não a si próprio.


Como os povos indígenas têm pouca relação com o espelho, possivelmente têm essa possibilidade de desenvolver o olhar para o outro, mais do que para si mesmo. Isso deve ter alguma influência. É uma experiência empírica minha. Mas que me levou a pensar o seguinte: “Como me espelho no olhar do outro? Como o outro se espelha no meu olhar?” Só posso saber isso pelo caminho mais curto - o diálogo, que é a possibilidade de expressarmos o que somos e sentimos, mais do que aquilo que pensamos. E, através dessa expressão, começarmos a apreender a riqueza do grupo social, da comunidade que nós formamos.


Frei Betto é escritor, autor do romance sobre exclusão social "Hotel Brasil" (Atica), entre outros livros.




DECLARAÇÃO DE VOTO



Frei Betto

DECLARAÇÃO DE VOTO Frei Betto Voto este ano, para presidente da República, no candidato decidido a implementar reformas estruturais tão prometidas e jamais efetivadas: agrária, tributária, política, judiciária. E que a previdenciária e a trabalhista não sejam um engodo para penalizar ainda mais os trabalhadores e aposentados e beneficiar grandes empresas.


Voto em quem se dispõe a revolucionar a saúde e a educação. É uma vergonha o sucateamento do SUS e do ensino público. De 190 milhões de brasileiros, apenas 30 milhões se agarram esperançosamente na boia de salvação dos planos privados de saúde. Os demais são tratados como cidadãos de segunda classe, abnegados penitentes de filas hospitalares, obrigados a adquirir remédios onerados por uma carga tributária de 39% em média.

Segundo o MEC, há 4,1 milhões de brasileiros, entre 4 e 17 anos de idade, fora da escola. Portanto, virtualmente dentro do crime. Nossos professores são mal remunerados, a inclusão digital dos alunos é um penoso caminho a ser percorrido, o turno curricular de 4 horas diárias é o verniz que encobre a nação de semianalfabetos.

Voto no candidato disposto ao controle rigoroso de emissão de gás carbônico das indústrias, dos pastos e das áreas de preservação ambiental, como a Amazônia. Não se pode permitir que o agronegócio derrube a floresta, contamine os rios e utilize mão de obra desprotegida da legislação trabalhista ou em regime de escravidão.


Voto em quem se comprometer a superar o caráter compensatório do Bolsa Família e resgatar o emancipatório do Fome Zero, abrindo a porta de saída para as famílias que sobrevivem à custa do governo, de modo que possam gerar a própria renda.


Voto no candidato disposto a mudar a atual política econômica que, em 2008, canalizou R$ 282 bilhões para amortizar dívidas interna e externa e apenas R$ 44,5 bilhões para a saúde. Em termos percentuais, foram 30% do orçamento destinados ao mercado financeiro e apenas 5% para a saúde, 3% à educação, 12% a toda a área social.


Voto no candidato contrário à autonomia do Banco Central, pois a economia não é uma instância divorciada da política e do social. Voto pela redução dos juros, a desoneração da cesta básica e dos medicamentos, o aumento real do salário mínimo, a redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas.


Voto na legalização e preservação das áreas indígenas, de quilombolas e ribeirinhos, no diálogo permanente com os movimentos sociais e repúdio a qualquer tentativa de criminalizá-los, nas iniciativas de economia solidária e comércio justo, na definição constitucional do limite máximo de propriedade rural.

Voto no candidato convicto de que urge reduzir as tarifas de energia destinada ao consumo familiar e de uso de telefonia móvel. Disposto a valorizar fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica, a dos mares e lixões etc. E que seja contrário à construção de termoelétricas e hidrelétricas nocivas ao meio ambiente.


Voto no candidato que priorize o transporte coletivo de qualidade, com preços acessíveis subsidiados; exija a identificação visível dos alimentos transgênicos oferecidos ao consumidor; impeça a participação e uso de crianças em peças publicitárias; e condene veementemente o trabalho infantil.

Voto no candidato decidido a instalar a Comissão da Verdade, de modo a abrir os arquivos das Forças Armadas concernentes ao período ditatorial e apurar os crimes cometidos em nome do Estado, bem como o paradeiro dos desaparecidos.

Voto em quem dê continuidade à atual política externa, de fortalecimento da soberania e independência do Brasil, diversificação de suas relações comerciais, apoio a todas as formas de integração latino-americana e caribenha sem a presença dos EUA; direito de o nosso país ter assento no Conselho de Segurança da ONU; de repúdio ao criminoso bloqueio dos EUA a Cuba e à instalação de bases militares estadunidenses na América Latina.

Voto, sobretudo, em quem apresentar um programa convincente de redução significativa da maior chaga do Brasil: a desigualdade social.

Este o meu voto.


Resta achar o candidato.
Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros



Trecho de uma entrevista de Eric Hobsbawm à New Letf Review de janeiro/fevereiro:



Pergunta - "Era dos Extremos" termina em 1991, com um panorama de avalanche global --o colapso das esperanças de avanços sociais globais da era de ouro [segundo Hobsbawm, 1949-73]. Quais são as mudanças mais importantes desde então na história mundial?

Eric Hobsbawm - Vejo quatro mudanças principais. Primeiro, o deslocamento do centro econômico do mundo do Atlântico Norte para o sul e o leste da Ásia. Isso já estava começando no Japão nas décadas de 1970 e 80, mas a ascensão da China desde os anos 1990 vem fazendo uma diferença real. Em segundo lugar, é claro, a crise mundial do capitalismo, que vínhamos prevendo, mas que, mesmo assim, levou muito tempo para ocorrer. Em terceiro, a derrota retumbante da tentativa dos EUA de exercer a hegemonia global solo a partir de 2001 --e essa tentativa vem fracassando de modo muito visível. Em quarto lugar, a emergência de um novo bloco de países em desenvolvimento, como entidade política --os Brics [Brasil, Rússia, Índia e China]--, não tinha acontecido quando escrevi "Era dos Extremos". E, em quinto lugar, a erosão e o enfraquecimento sistemático da autoridade dos Estados: dos Estados nacionais no interior de seus territórios e, em grandes regiões do mundo, de qualquer tipo de autoridade de Estado efetiva. Isso pode ter sido previsível, mas se acelerou em um grau que eu não teria previsto.

Pergunta - O que mais o surpreendeu desde então?


Hobsbawm - Nunca deixo de me espantar com a pura e simples insensatez do projeto neoconservador, que não apenas fez de conta que a América fosse o futuro, mas chegou a pensar que tivesse formulado uma estratégia e uma tática para alcançar esse objetivo. Pelo que consigo enxergar, eles não tinham uma estratégia coerente, em termos racionais. Em segundo lugar --fato muito menor, mas significativo--, o ressurgimento da pirataria, algo que já tínhamos em grande medida esquecido; isso é novo. E a terceira coisa, que é ainda mais local: a derrocada do Partido Comunista da Índia (Marxista) em Bengala Ocidental [no leste da Índia], algo que eu realmente não teria previsto. Prakash Karat, seu secretário-geral, disse-me recentemente que o partido se sentiu sitiado e assediado em Bengala Ocidental. E está prevendo sair-se muito mal diante deste novo Congresso nas eleições locais. Isso depois de governar por 30 anos como partido nacional, por assim dizer.


Pergunta - O sr. visualiza qualquer recomposição política do que foi no passado a classe trabalhadora?


Hobsbawm - Não em sua forma tradicional. Marx [1818-83] acertou, sem dúvida, quando previu a formação de grandes partidos de classe em determinado estágio da industrialização. Mas esses partidos, quando foram bem-sucedidos, não operaram puramente como partidos da classe trabalhadora: se queriam estender-se para além de uma classe estreita, o faziam como partidos do povo, estruturados em torno de uma organização inventada pela classe trabalhadora e voltada a alcançar os objetivos dela. Mesmo assim, havia limites à consciência de classe. No Reino Unido, o Partido Trabalhista nunca conquistou mais de 50% dos votos. O mesmo se aplica à Itália, onde o Partido Comunista era muito mais um partido do povo. Na França, a esquerda era baseada sobre uma classe trabalhadora relativamente fraca, mas que conseguiu se reforçar como sucessora essencial da tradição revolucionária. O declínio da classe operária manual na indústria parece, de fato, ter atingido seu estágio terminal. Ainda restam ou vão restar muitas pessoas fazendo trabalhos manuais, e a defesa das condições de trabalho delas continua a ser uma tarefa importante de todos os governos de esquerda. Mas essa defesa não pode mais ser o alicerce principal das esperanças dessas pessoas: elas não possuem mais potencial político, nem mesmo teoricamente, porque não possuem o potencial de organização da classe operária antiga. Houve três outras mudanças negativas importantes. Uma delas, é claro, é a xenofobia --que, para a maior parte da classe trabalhadora é, nas palavras usadas certa vez por [August] Bebel, "o socialismo dos tolos": proteja meu emprego contra pessoas que estão competindo comigo. Em segundo lugar, boa parte da mão de obra e do trabalho nos setores que a administração pública britânica qualificava no passado como "graus menores e manipulativos" não é permanente, mas temporária: são estudantes e migrantes trabalhando com catering [fornecimento de refeições para linhas aéreas, gastronomia hospitalar e cozinhas de navios], por exemplo. Assim, não é fácil enxergá-la como tendo potencial de ser organizada. A única parte facilmente organizável desse tipo de mão de obra é a que é empregada por autoridades públicas, e isso devido ao fato de essas autoridades serem politicamente vulneráveis. A terceira e mais importante mudança é, a meu ver, a divisão crescente gerada por um novo critério de classe: a saber, a aprovação em exames de escolas e universidades como critério de acesso a empregos. Pode-se dizer que se trata de uma meritocracia, mas ela é medida, institucionalizada e mediada por sistemas de ensino. O que isso fez foi desviar a consciência de classe da oposição aos patrões para a oposição a representantes de alguma elite: intelectuais, elites liberais, pessoas que se erguem como superiores a nós. Podem existir meios novos? Não podem mais ser em termos de uma classe única, mas, na minha opinião, isso nunca foi possível. Existe uma política progressista de coalizões, mesmo coalizões relativamente permanentes como as que unem, digamos, a classe média instruída, leitora do "The Guardian", e os intelectuais --os altamente instruídos, que de modo geral tendem a posicionar-se muito mais à esquerda que outros-- e a massa dos pobres e ignorantes. Os dois grupos são essenciais para um movimento como esse, mas hoje talvez seja mais difícil uni-los do que era antes. É possível, em certo sentido, os pobres se identificarem com os multimilionários, como acontece nos EUA, dizendo "eu só precisaria de sorte para virar popstar". Mas não é possível dizer "bastaria um pouco de sorte para eu virar ganhador do Prêmio Nobel". Isso cria um problema real quando se trata de coordenar as posições políticas de pessoas que, objetivamente falando, poderiam estar do mesmo lado.





DEBATE ABERTO


Lula, as elites e o vira-latas

É extremamente interessante que o brasileiro de maior destaque no mundo hoje seja um mestiço, nordestino, de origens paupérrimas e com déficit de educação formal. Para todos os segmentos das elites nacionais, nostálgicas de uma Europa que as rejeita, é como uma bofetada! E assim foi compreendida a lista do Time. Daí a resposta das elites: o silêncio!

Francisco Carlos Teixeira

Seguindo outros grandes meios de comunicação globais, a revista Time escolheu – na semana passada - o presidente Lula como o líder mais influente do mundo. A notícia repercutiu em todo o mundo, sendo matéria de primeira página, no jornalão El País.

Elite e preconceito

Na verdade a matéria o apontava como o homem mais influente do mundo, posto que nem só políticos fossem alinhados na larga lista composta pelo Time. Esta não é a primeira vez que Lula merece amplo destaque na imprensa mundial. Os jornais Le Monde, de Paris, e o El País, o mais importante meio de comunicação em língua espanhola (e muito atento aos temas latino-americanos) já haviam, na virada de 2009, destacado Lula como o “homem do ano”. O inédito desta feita, com a revista Time, foi fazer uma lista, incluindo aí homens de negócios, cientistas e artistas mundialmente conhecidos. Entre os quais está o brasileiro Luis Inácio da Silva, nascido pobre e humilde em Caetés, no interior de Pernambuco, em 1945, o presidente do Brasil aparece como o mais influente de todas as personalidades globais. Por si só, dado o ponto de partida da trajetória de Lula e as deficiências de formação notórias é um fato que merece toda a atenção. No Brasil a trajetória de Lula tornou-se um símbolo contra toda a forma de exclusão e um cabal desmentido aos preconceitos culturalistas que pouco se esforçam para disfarçar o preconceito social e de classe.

É extremamente interessante, inclusive para uma sociologia das elites nacionais, que o brasileiro de maior destaque no mundo hoje seja um mestiço, nordestino, de origens paupérrimas e com grande déficit de educação formal. Para todos os segmentos das elites nacionais, nostálgicas de uma Europa que as rejeita, é como uma bofetada! E assim foi compreendida a lista do Time. Daí a resposta das elites: o silêncio sepulcral!

Lula Líder Mundial

Desde 2007 a imprensa mundial, depois de colocá-lo ao lado de líderes cubanos e nicaraguenhos num pretenso “eixinho do mal”, teve que aceitar a importância da presença de Lula nas relações internacionais e reconhecer a existência de uma personalidade original, complexa e desprovida de complexos neocoloniais. Em 2008 a Newsweek, seguida pela Forbes, admitiam Lula como um personagem de alcance mundial. O conservador Financial Times declarava, em 2009, que Lula, “com charme e habilidade política” era um dos homens que haviam moldado a primeira década do século XXI. Suas ações, em prol da paz, das negociações e dos programas de combate à pobreza eram responsáveis pela melhor atenção dada, globalmente, aos pobres e desprovidos do mundo.

Mesmo no momento da invasão do Iraque, em busca das propaladas “armas de destruição em massa”, Lula havia proposto a continuidade das negociações e declarado que a guerra contra a fome era mais importante que sustentar o complexo industrial-militar norte-americano.

Em 2010, em meio a uma polêmica bastante desinformada no Brasil – quando alguns meios de comunicação nacionais ridicularizaram as propostas de negociação para a contínua crise no Oriente Médio – o jornal israelense Haaretz – um importante meio de comunicação marcado por sua independência – denominou Lula de “profeta da paz”, destacando sua insistência em buscar soluções negociadas para a paz. Enquanto isso, boa parte da mídia brasileira, fazendo eco à extrema-direita israelense, procurava diminuir o papel do Brasil na nova ordem mundial.

Lula, talvez mesmo sem saber, utilizando-se de sua habilidade política e de seu incrível sentido de negociações, repetia, nos mais graves dossiês internacionais, a máxima de Raymond Aron: a paz se negocia com inimigos. As exigências, descabidas e mal camufladas de recusa ás negociações, sempre baseadas em imposições, foram denunciadas pelo presidente brasileiro. Idéias pré-concebidas estabelecendo a necessidade de mudar regimes para se ter a paz ou usar as baionetas para garantir a democracia foram consideradas, como sempre, desculpas para novas guerras. Lula mostrou-se, em várias das mais espinhosas crises internacionais, um negociador permanente. Foi assim na crise do golpe de Estado na Venezuela em 2002 (quando ainda era candidato) e nas demais crises sul-americanas, como na Bolívia, com o Equador e como mediador em crises entre outros países.

Lula negociador

O mais surpreendente é que o reconhecimento internacional do presidente brasileiro não traz qualquer orgulho para a elite brasileira. Ao contrário. Lula foi ridicularizado por sua política no Oriente Médio. Enquanto isso o presidente de Israel, Shimon Perez ou o Grande-Rabino daquele país solicitavam o uso do livre trânsito do presidente para intervir junto ao irascível presidente do Irã. Dizia-se aqui que Lula ofendera Israel, enquanto o Haaretz o chamava de “profeta da paz” e a Knesset (o parlamento de Israel) o aplaudia em pé. No mesmo momento o Brasil assinava importantes acordos comerciais com Israel.

Ridicularizou-se ao extremo a atuação brasileira em Honduras, sem perceber a terrível porta que se abria com um golpe militar no continente. Lula teve a firmeza e a coragem, contra a opinião pública pessimamente informada, de dizer e que “... a época de se arrancar presidentes de pijama” do palácio do governo e expulsá-los do país pertencia, definitivamente, a noite dos tempos.

Honduras teve que arcar com o peso, e os prejuízos, de sustentar uma elite empedernida, que escrevera na constituição, após anos de domínio ditatorial, que as leis, o mundo e a vida não podem ser mudados. Nem mesmo através da expressa vontade do povo! E a elite brasileira preferiu ficar ao lado dos golpistas hondurenhos e aceitar um precedente tenebroso para todo o continente.

Brasil, país no mundo!

Também se ridicularizou a abertura das relações do Brasil com o conjunto do planeta. Em oito anos abriu-se mais de sessenta novas representações no exterior, tornando o Brasil um país global. Os nostálgicos do “circuito Helena Rubinstein” – relações privilegiadas com Nova York, Londres e Paris – choraram a “proletarização” de nossas relações. Com a crise econômica global – que desmentiu os credos fundamentalistas neoliberais – a expansão do Brasil pelo mundo, os novos acordos comerciais (ao lado de um mercado interno robusto) impediram o Brasil de cair de joelhos. Outros países, atrelados ao eixo norte-atlântico e aqueles que aceitaram uma “pequena Alca”, como o México, debatem-se no fundo de suas infelicidades. Lula foi ridicularizado quando falou em “marolhinha”. Em seguida o ex-poderoso e o ex-centro anti-povos chamado FMI, declarou as medidas do governo Lula como as mais acertadas no conjunto do arsenal anti-crise.

Mais uma vez silêncio das elites brasileiras!

Lula foi considerado fomentador da preguiça e da miséria ao ampliar, recriar, e expandir ações de redistribuição de renda no país. A miséria encolheu e mais de 91 milhões de brasileiros ascenderam para vivenciar novos patamares de dignidade social... A elite disse que era apoiar o vício da preguiça, ecoando, desta feita sabendo, as ofensas coloniais sobre “nativos” preguiçosos. Era a retro-alimentação do mito da “pereza ibérica”. Uma ajuda de meio salário, temporária, merece por parte da elite um bombardeio constante. A corrupção em larga escala, dez vezes mais cara e improdutiva ao país que o Bolsa Família, e da qual a elite nacional não é estranha, nunca foi alvo de tantos ataques.

A ONU acabou escolhendo o Programa Bolsa Família como símbolo mundial do resgate dos desfavorecidos. O ultra-conservador jornal britânico The Economist o considerou um modelo de ação para todos os países tocados pela pobreza e o Le Monde como ação modelar de inclusão social.

Mais uma vez a elite nacional manteve-se em silêncio!

Em suma, quando a influente revista, sem anúncios do governo brasileiro, Time escolhe Lula como o líder mais influente do mundo, a mídia brasileira “esquece” de noticiar. Nas páginas internas, tão encolhidas como um vira-lata em dia de chuva noticia-se que Lula “... está entre os 25 lideres mais influentes do mundo”. Errado! A lista colocava Lula como “o mais” influente do mundo.

Agora se espera o silêncio da elite brasileira!

Francisco Carlos Teixeira é professor Titular de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).




Não verás Lula nenhum

A reação da velha mídia nativa ao acordo nuclear do Irã, costurado pelas diplomacias brasileira e turca chega a ser cômica, mas revela, antes de tudo, o despreparo da classe dirigente brasileira em interpretar a força histórica do momento. O claro ressentimento da velha guarda midiática com o sucesso de Lula e do ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, deixou de ser um fenômeno de ocasião, até então norteado por opções ideológicas, para descambar na inveja pura, quando não naquilo que sempre foi: um ódio de classe cada vez menos disfarçado. O artigo é de Leandro Fortes.

Leandro Fortes - Brasília, eu vi

Do blog Brasília, eu vi (Leandro Fortes)

Em linhas gerais, Luís Fernando Veríssimo disse, em artigo recente, que as gerações futuras de historiadores terão enorme dificuldade para compreender a razão de, no presente que se apresenta, um presidente da República tão popular como Luiz Inácio Lula da Silva ser alvo de uma campanha permanente de oposição e desconstrução por parte da mídia brasileira. Em suma, Veríssimo colocou em perspectiva histórica uma questão que, distante no tempo, contará com a vantagem de poder ser discutida a frio, mas nem por isso deixará de ser, talvez, o ponto de análise mais intrigante da vida política do Brasil da primeira década do século XXI.

A reação da velha mídia nativa ao acordo nuclear do Irã, costurado pelas diplomacias brasileira e turca chega a ser cômica, mas revela, antes de tudo, o despreparo da classe dirigente brasileira em interpretar a força histórica do momento e suas conseqüências para a consolidação daquilo que se anuncia, finalmente, como civilização brasileira.

O claro ressentimento da velha guarda midiática com o sucesso de Lula e do ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, deixou de ser um fenômeno de ocasião, até então norteado por opções ideológicas, para descambar na inveja pura, quando não naquilo que sempre foi: um ódio de classe cada vez menos disfarçado, fruto de uma incompreensão histórica que só pode ser justificada pelo distanciamento dos donos da mídia em relação ao mundo real, e da disponib ilidade quase infinita de seus jornalistas para fazer, literalmente, qualquer trabalho que lhe mandarem os chefes e patrões, na vã esperança de um dia ser igual a eles.

Assim, enquanto a imprensa mundial se dedica a decodificar as engrenagens e circunstâncias que fizeram de Lula o mais importante líder mundial desse final de década, a imprensa brasileira se debate em como destituí-lo de toda glória, de reduzí-lo a um analfabeto funcional premiado pela sorte, a um manipulador de massas movido por programas de bolsas e incentivos, a um demagogo de fala mansa que esconde pretensões autoritárias disfarçadas, aqui e ali, de boas intenções populares. Tenta, portanto, converter a verdade atual em mentiras de registro, como se fosse possível enganar o futuro com notícias de jornal.

Destituídos de poder e credibilidade, os barões dessa mídia decadente e anciã se lançaram nessa missão suicida quando poderiam, simplesmente, ter se dedicado a fazer bom jornalismo, crítico e construtivo. Têm dinheiro e pessoal qualificado para tal. Ao invés disso, dedicaram-se a escrever para si mesmos, a se retroalimentar de preconceitos e maledicências, a pintarem o mundo a partir da imagem projetada pela classe média brasileira, uma gente quase que integralmente iletrada e apavorada, um exército de reginas duartes prestes a ter um ataque de nervos toda vez que um negro é admitido na universidade por meio de uma cota racial.

Ainda assim, paradoxalmente, uma massa beneficiada pelo crescimento econômico, mas escrava da própria indigência intelectual.




Bravatas de tucano e agenda de mudança histórica


Talvez o maior paradoxo resida na ilusão de que um candidato empalmado pelas forças conservadoras, como é o caso de Serra, possa alterar a dinâmica da repartição da riqueza em benefício do setor produtivo e dos trabalhadores. Sim, replicam alguns economistas respeitáveis, a China o faz. De fato, faz até mais que isso ao impor a paridade cambial que lhe convém às moedas do resto do mundo. Mas os olhos esbugalhados de Serra não são os olhos oblíquos de Hu Jintao. Tampouco a coalizão demotucana que ele representa neste pleito se confunde com o Partido Comunista Chinês. O artigo é de Saul Leblon.

Saul Leblon

Causaram certo frisson eleitoral as declarações de José Serra à rádio CBN, da Globo, na segunda-feira, 10 de maio. Instado a prestar juras de fidelidade à supremacia das finanças desreguladas na rudimentar concepção de "Banco Central independente" da entrevistadora Miriam Leitão – uma vulgarizadora da agenda neoliberal na mídia--Serra destemperou.

De forma ríspida, o tucano interpelou a jornalista sugerindo seu comprometimento com interesses dos mercados. A palavra lobista ficou no ar sem ser pronunciada. Por fim, passou a idéia - sedutora para alguns - de que submeterá o Banco Central a sua vontade, caso seja eleito em outubro. O frisson à esquerda decorre em grande parte do paradoxo que até mesmo simpatizantes do Presidente Lula enxergam no comportamento cauteloso do seu governo em relação aos privilégios rentistas no país, entre os quais a prerrogativa da definição ‘independente’ da taxa básica de juros da economia .

Talvez o maior paradoxo, porém, resida na ilusão de que um candidato empalmado pelas forças conservadoras, como é o caso de Serra, possa alterar a dinâmica da repartição da riqueza em benefício do setor produtivo e dos trabalhadores com um simples ato de vontade unilateral. Sim, replicam alguns economistas respeitáveis, a China o faz. De fato, faz até mais que isso ao impor a paridade cambial que lhe convém às moedas do resto do mundo. Mas os olhos esbugalhados de Serra não são os olhos oblíquos de Hu Jintao. Tampouco a coalizão demotucana que ele representa neste pleito se confunde com o Partido Comunista Chinês.

Embates que definem questões essenciais como a repartição da riqueza numa sociedade não podem ser atribuídos a um confronto de personalidades. A Revolução Russa não existiria sem Lênin. O PT não teria a força atual sem Lula. Mas o personalismo que pretende substituir a história pela vontade individual não passa de uma corriqueira utopia daquelas classes que anseiam por uma terceira via, ou um golpe de mão, que as salve do emparedamento social.

A progressiva baldeação da carreira política de Serra para o campo conservador a ponto de hoje ser a esperança de uma volta ao poder da extrema direita nativa, das classes médias que se sentem preteridas pelo ‘assistencialismo’ de Lula e da plutocracia paulista, reflete esse desvario recorrente. Entre outras características desse bloco de forças encontra-se a ojeriza a movimentos populares organizados, tão bem verbalizada em poções semanais pela revista Veja com refil diário fornecido pela Folha, hoje reduzida a um impresso de circulação interna do clube de leitores tucanos.

Nas administrações públicas nas quais Serra exerceu cargos executivos, esse elixir pouco republicano derivou para a pancadaria pura e simples contra partidos e sindicatos empenhados em movimentos reivindicatórios. É sintomático que hoje em SP até sindicatos tucanos, que apóiam Alckmin na disputa estadual, recusem igual endosso a Serra. O higienismo social é outra brotação desse intercurso conservador. Na prefeitura paulista, Serra deixou a marca registrada nesse quesito ao criar as rampas anti-mendigos que fazem a festa dos endinheirados e atazanam os dias, e sobretudo as noites, dos moradores de rua alojados, como se sabe, de puro capricho, debaixo de viadutos e pontes. O insulamento do candidato tucano no próprio PSDB, atesta por fim essa fé cega na faca amolada da proficiência do ‘eu faço”, cacoete típico do individualismo da classe média que uma vez no poder se desdobra em centralismo burocrático obsessivo, atestado por muitos que privaram das relações de trabalho com Serra.

Não se confunda essas observações com a personalização da história que se almeja criticar. Trata-se apenas de arrolar elementos que ajudem a entender melhor os limites que estão por trás do destempero tucano na entrevista à CBN. E, sobretudo, os limites da ilusão alimentada por quem acredita que ele - ou a qualquer outro ungido - poderá ‘operar’ melhor as relações de força com o capital financeiro, peitando-o exclusivamente com base em uma ‘personalidade forte e centralizadora.

Sistema Financeiro e Desenvolvimento

A autonomia concedida informalmente ao Banco Central no governo Lula nem por isso merece o conformismo histórico ou a tolerância obsequioso. Críticos desse paradigma, como o economista Ricardo Carneiro, professor da Unicamp, recusam a disjuntiva que de certa forma congelou o debate sobre o tema no primeiro mandato, quando o ambiente interno do governo – a partir do Ministério da Fazenda— foi colonizado pela idéia de que a contestação à autonomia do BC na definição dos juros levaria à ruptura, ao enfrentamento e ao desastre financeiro. “Tanto não era verdade que as coisas mudaram no segundo mandato, sem grande traumas’, contrapõe Carneiro para emendar em tom de brincadeira: “ A partir daí, sim, podemos dizer que a taxa real de juros caiu a níveis nunca antes vistos na história deste país’.

O economista acaba de lançar o livro “Sistema Financeiro e Desenvolvimento no Brasil”, escrito em parceria com o também economista e presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino. Os textos deste que não é apenas um livro, mas talvez a expressão de um novo pólo germinador de idéias para o desenvolvimento, miram exatamente na direção das mudanças estruturais requeridas pelo Sistema Financeiro Nacional para se tornar uma alavanca efetiva do investimento de longo prazo, com juros acessíveis e fundings regulares. Tal abordagem não descarta ajustes de curto prazo na autonomia do BC, mas desvela uma perspectiva bastante distinta daquele baseada na suposta capacidade desse ou daquele presidenciável de ‘operar’ – sozinho -novas relações de poder condensadas na definição da taxa de juros.

Carneiro, é forçoso repetir, alinha-se entre os críticos da política ortodoxa do BC, a exemplo de Maria da Conceição Tavares e Luiz Gonzaga Belluzzo, por exemplo. O que os preocupa, sobretudo, são as conseqüências de longo prazo geradas pelos encadeamentos dessa distorção na matriz industrial brasileira. Um dos mais letais, na avaliação de Carneiro, é a valorização cambial decorrente do ingresso de capitais especulativos, atraídos pela arbitragem do juro alto. “A sobrevalorização da moeda daí decorrente’, lembra o economista da Unicamp, ‘desmantela cadeias produtivas ao transferir a demanda de insumos, máquinas e equipamentos para o exterior, ademais de inibir o investimento diante de importações duplamente competitivas. De um lado, por conta do câmbio; de outro, pela escala e os custos da indústria chinesa, por exemplo’.

O alerta para os riscos não o impede de observar outro processo de mudança em curso na economia, desta vez em sentido oposto. Embora lento, soa significativamente mais consistente como perspectiva de futuro do que bravatas eleitorais. ‘As coisas começaram a mudar nas relações de poder entre o capital financeiro e demais setores quando o então ministro do Trabalho, Luiz Marinho, emplacou a política de valorização do salário mínimo no governo’, pontua Carneiro chamando a atenção para um ‘preço’ da economia que abocanhou um aumento real de 73% acima do INPC desde 2003. “Em seguida”, continua, ‘já com Mantega na Fazenda em substituição a Palocci, e Dilma na Casa Civil, o dogma do superávit primário começou a trincar. As taxas de juros recuaram significativamente desde então e’ - chama a atenção - ‘pode parecer pouco, mas o volume de recursos destinados ao pagamento dos juros da dívida interna, hoje, depois de muitos anos na liderança do gasto público, tornou-se o segundo orçamento do Estado: o primeiro, agora, é a rubrica de políticas sociais e previdenciárias”.

Simultaneamente e não por acaso – sublinha - ocorreria a volta do investimento pesado em infraestrutura social e logística com o PAC. “Durante a crise’, lembra o professor da Unicamp, ‘a expansão das linhas de crédito vinculado, bem como a liquidez fornecida pelos bancos públicos, comprovaria o acerto de se ter não apenas preservado mas fortalecido um segmento financeiro do Estado, como o BNDES, com taxas de juros não atreladas à Selic. E note” – altera a voz - "Carlos Lessa caiu no BNDES no 1º mandato de Lula justamente por ter enfrentado Meirelles que naquele momento sentia-se respaldado para argüir o custo do dinheiro barato nos financiamentos do banco, com base na TJLP. Isso acabou’. São essas fissuras abertas na ‘autonomia do BC’, segundo ele, que explicam em grande parte o aparente paradoxo brasileiro no pós-crise: ter ainda a taxa básica de juros mais alta do mundo e, ao tempo, figurar como uma das economias de recuperação mais vigorosa do planeta.

Não há, de qualquer forma, espaço para ilusões. Para influenciar o jogo duro da repartição da renda e do poder no país, Carneiro e os sindicalistas que abraçaram o projeto do livro comemorativo dos 87 anos do Sindicato dos Bancários defendem um horizonte de reformas profundas no sistema financeiro nacional. Elas são indispensáveis, no entender desse novo e auspicioso círculo de entrelaçamento acadêmico e sindical, para viabilizar o passo seguinte do desenvolvimento na sucessão de Lula. Entre outras providências, seus integrantes – que não escondem o voto em Dilma Rousseff - trarão para a agenda de 2011-2014, caso a ex-ministra vença, bandeiras como a democratização do Conselho Monetário Nacional para incluir trabalhadores e empresários em sua composição. Mas também a prestação de contas republicana deste órgão, e do Banco Central , ao Congresso Nacional. Sintomaticamente, são bandeiras historicamente rejeitadas pelos interesses políticos e econômicos coagulados hoje em torno da candidatura do tucano José Serra à Presidência da República.




Eugenia: um dos alicerces do nazismo


Do Portal Luís Nassif

Do Blog de Zanuja Castelo Branco

Nazismo: onde tudo começou

Indico a leitura do texto “Quando a plutocracia demoniza os fracos” no site Vi o Mundo. Fala sobre o início da eugenia nos EUA nos anos 30 e 40 e como essa praga se espalhou pela Europa, Asia e outros continentes. Li sem quase respeirar esse texto que faz parte do livro “War Against the Weak”, de Edwin Black. Estou chocada, mas não deveria pq quase tudo que não presta no mundo vem dos americanos. É impressionante.

Vale a pena a leitura.



Nota: O termo eugenia – bem nascido – foi cunhado em 1883 pelo antropologista e matemático britânico Francis Galton (1822 – 1911), que o definiu como melhoramento genético, ou “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente.” Galton também foi pioneiro nos estudos sobre identificação individual por meio das digitais humanas. Influenciado pela teoria da seleção natural de seu primo Charles Darwin, Galton formulou a Teoria da Eugenia, em que discorria sobre o aperfeiçoamento da espécie humana através do cruzamento geneticamente forçado. As ideias eugênicas de aperfeiçoamento racial foram levadas ao extremo pelo regime nazista de Adolf Hitler.

A guerra contra os fracos

Edwin Black

Como a filantropia corporativa norte-americana lançou uma campanha nacional de limpeza étnica nos Estados Unidos, ajudou a fundar e financiar a eugenia nazista de Hitler e Mengele – e, em seguida, criou o movimento moderno de “genética humana”.

Nas três primeiras décadas do século 20, a filantropia corporativa americana, combinada com a fraude acadêmica de prestígio para criar a pseudociência da eugenia, institucionalizou a política racial como política nacional. O objetivo: criar uma superior, nórdica, raça branca, e destruir a viabilidade de todas as outras.

Como? Ao identificar o chamado “defeito” nas árvores de família e submetê-las à segregação legal e programas de esterilização. As vítimas: os pobres, pessoas brancas de cabelos castanhos, afro-americanos, imigrantes, índios, judeus da Europa Oriental, enfermos e qualquer um realmente classificado como fora dos padrões de genética superior elaborados pelo raciologistas norte-americanos. Os principais culpados foram a Instituição Carnegie, a Fundação Rockefeller e a rica estrada de ferro Harriman, em aliança com os mais respeitados cientistas dos Estados Unidos vindos de universidades de prestígio tais como Harvard, Yale e Princeton, operando a partir de um complexo em Cold Spring Harbor, Long Island.

A rede eugênica trabalhou em conjunto com o Departamento de Agricultura dos EUA, o Departamento de Estado e vários órgãos governamentais estaduais e assembléias legislativas em todo o país, e até mesmo com o Supremo Tribunal de Justiça dos EUA. They were all bent on breeding a eugenically superior race, just as agronomists would breed better strains of corn. Todos estavam empenhados na criação de uma raça eugenicamente superior, da mesma forma que engenheiros agrônomos traçam linhagens melhores de milho. O plano era eliminar a capacidade reprodutiva dos fracos e inferiores.

Finalmente, 60 mil norte-americanos foram coercitivamente esterilizados – legal e extra-legalmente. Many never discovered the truth until decades later. Muitos nunca descobriram a verdade por décadas. Aqueles que apoiaram ativamente a eugenia progressiva incluem as figuras mais progressivas da America: Woodrow Wilson, Margaret Sanger e Oliver Wendell Holmes.

As cruzadas eugênicas norte-americana proliferaram em uma campanha mundial, e em 1920 chamou a atenção de Adolf Hitler. Sob os nazistas, os princípios eugênicos foram aplicados irrestritamente, ficando fora de controle no infame genocídio do Reich. Durante os anos pré-guerra, os eugenistas norte-americanos apoiaram abertamente o programa da Alemanha. A Fundação Rockefeller financiou o Instituto Kaiser Guilherme e o trabalho dos seus principais cientistas raciais. Uma vez iniciada a Segunda Guerra Mundial, a eugenia nazista passou de esterilização em massa e eutanásia para assassinato genocida. Um dos médicos do Instituto Kaiser Guilherme no programa financiado pela Fundação Rockefeller era Josef Mengele, que continuou sua pesquisa em Auschwitz, fazendo relatórios diários sobre a eugenia em gêmeos. Depois que o mundo recuou ante as atrocidades nazistas, o movimento eugenista norte-americano – suas instituições e cientistas de renome – mudou de nome e foi reagrupado sob a bandeira de uma ciência esclarecida chamada genética humana.

Edwin Black é um autor premiado. Com um milhão de livros impressos, seu trabalho se concentra em genocídio e ódio, crime e corrupção corporativa, improbidade governamental, fraude acadêmica, abusos filantrópicos, dependência do petróleo, energia alternativa e investigação histórica.



O vôo rasteiro do tucano AnastasiaJosé de Souza Castro

Passados 47 dias da posse de Antonio Anastasia, resolvi dar uma olhada na galeria de fotos do Governo de Minas, pois ela registra os momentos mais importantes do governador. Queria avaliar se um artigo publicado aqui no dia 28 de março (“O tucano Anastasia em céu de brigadeiro”) se perdera pelos descaminhos de nossa política. Minha hipótese era que o novo governador poderia aproveitar os oito meses antes das eleições, com a chave do Tesouro nas mãos, para reforçar sua candidatura. Pelo que vi, o candidato desperdiçou quase dois meses desse precioso tempo. Que vida dura que o alfaia... ops, o governador tem!Os assessores de Anastasia devem ter pensado que seu grande momento, no primeiro mês de governo, seria a comemoração da Inconfidência Mineira, em Ouro Preto, dia 21 de abril. Pois, das 42 páginas de fotos do governador na Internet (os interessados podem ver aqui: http://www.flickr.com/photos/governo_de_minas_gerais/page42/) nada menos que 30 são dedicadas ao evento. Ou seja, 546 fotos, nas quais, o que menos se vê é povo. Parece-me discutível que as personalidades que lá compareceram e aguentaram horas ouvindo discursos e enfileirados para receber Medalhas da Inconfidência que pouco valem, votem no candidato tucano e, muito menos, cabalem votos para Anastasia. Sobre esse terrível evento oficial, já escrevi aqui no ano passado: http://massote.pro.br/2009/04/a-despedida-e-a-despedida-de-aecio-neves-jose-de-souza-castro/. Pelo que li em jornais, neste ano foi pior ainda...Como se lembram, Anastasia tomou posse no dia 31 de março. “Em uma solenidade cheia de emoção e simbolismo”, diz a legenda da foto daquela data, “na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, o ex-governador Aécio Neves transmitiu o cargo ao novo governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia. Repetindo a tradição mineira, eles discursaram das sacadas do Palácio da Liberdade”.


Emoção e simbolismo... Essa expressão me lembrou o dia 23 de abril de 1985. Uma multidão ocupara toda a Praça da Liberdade e quarteirões próximos para se despedir de Tancredo Neves, cujo corpo estava sendo velado ali. Cinco metros da cerca de ferro que protegia o palácio não resistiu à pressão. Ao desabar, provocou pânico. Pessoas foram pisoteadas e esmagadas. A viúva do presidente, dona Risoleta Neves, num discurso emocionante da sacada do Palácio, evitou que mais pessoas morressem no tumulto. Voz trêmula, ela gritou ao microfone: “Mineiros! Mineiros! Minha gente! Meu coração está em pedaços... eu não teria força suficiente para lhes dizer uma palavra sequer, mas, diante deste carinho imenso, diante desta multidão embebida em amor, em amor doado ao seu presidente, em amor, em amor que ele recebeu... e não fosse tamanho amor, não teria força suficiente para uma arrancada como a que ele realizou. Lutou, trabalhou, viveu para vocês, querendo dar a cada um dias melhores, condições de vida digna.”

Ouvindo-a, a multidão se acalmou. Isso ficou na história, muito mais que essas homenagens fastidiosas em Ouro Preto.

Palácio da Liberdade representa uma ideia de progresso do povo, muito mais que Palácio Tiradentes, de onde Anastasia despacha. E onde fez, no dia 5 de abril, a primeira reunião do secretariado, a que chamou de Reunião Gerencial. E de onde os professores em greve não puderam se aproximar, contidos por centenas de policiais militares. Tão diferente da Praça da Liberdade, onde, perto do ocaso da ditadura militar, no governo Francelino Pereira, milhares de professores se reuniram para mostrar “o rosto da greve”, depois que o secretário da Educação, Paulino Cícero, declarou que aquela era uma “greve sem rosto”.

No Palácio Tiradentes, que ajudou a construir, como vice-governador, Anastasia, longe de multidões insatisfeitas, se sentiu bem à vontade para dar posse, no dia 12 de abril, ao novo chefe do Gabinete Militar, coronel PM Luís Carlos Dias Martins. E, no dia seguinte, aos novos secretários de Cultura, Washington Mello, e de Relações Institucionais, Maria Coeli Simões Pires. Foi lá também que, no dia 28 de abril, recebeu a diretoria da Stola Spa, fornecedora da Fiat Automóveis, que foi mostrar ao governador o plano de expansão de sua fábrica em Belo Horizonte – e, certamente, pedir incentivos fiscais.

Que mais fez Anastásia? É difícil destacar alguma coisa importante. Talvez a apresentação, no dia 22 de abril, do modelo de gestão do Mineirão, que será modernizado para a Copa de 2014 e vai ser administrado em parceria com a iniciativa privada. Ou as visitas a Campina Verde, para a inauguração do Frigorífico Minerva, e a Uberaba, para a inauguração de uma usina de álcool de uma empresa privada e a abertura da Expozebu. A Araxá, para a posse da diretoria da Associação Comercial. A Almenara, Paulistas e Água Boa, para a inauguração de trechos asfaltados de rodovias. A Sabará, para o encerramento das celebrações da Semana Santa, acompanhando a Procissão do Triunfo – e lembrando que, em grego, “anastasia” significa “ressurreição”. A Campos Altos, para visitar o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. A Ouro Branco, para a comemoração do Dia do Trabalho e visita à Igreja Matriz construída no século XVIII e que está sendo reformada pela Cemig...

Ou de novo a Campo Belo, para assinatura de termos de doação de geladeiras, chuveiros elétricos, lâmpadas e outros equipamentos de baixo consumo de energia a 17 entidades sociais de 5 municípios da região, parte do Programa Energia do Bem, da Cemig.

Bem, em Campo Belo, a viagem talvez tenha rendido alguns votos... Mas, parece que Aécio Neves não acreditou – como eu – no grande potencial de votos de todas essas viagens, pois, nelas, ele brilhou pela ausência.

Confesso que não tenho acompanhado a imprensa mineira. Não sei qual o espaço que o novo governador teve em jornais, rádios e televisões ao longo desses 47 dias. Mas ouso pensar que teve menos que pré-candidatos do PT e PMDB. E Anastasia acaba de perder, na imprensa, um forte aliado: o diretor de redação do jornal Hoje em Dia, Carlos Lindenberg. Ele foi substituído na sexta-feira pelo chefe da sucursal de Brasília, Marcelo Cordeiro, funcionário da TV Record. E que chega disposto a não dar refresco ao governo mineiro, para que esse jornal se diferencie da tradicionalmente governista imprensa de nosso grande e bobo Estado.

Ah, se for verdade


domingo, 2 de maio de 2010


A impunidade de ontem estimula os torturadores de hoje no País


Altino Machado às 12:58 am

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

Ninguém duvide - declamou o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso - que todos aqui têm profunda aversão por atos de torturas ou sequestros”. Numa pirueta retórica, ele afirmou com palavras aquilo que acabara de negar com o voto. Parece aquela brincadeirinha infantil quando, contra todas as evidências, uma criança impõe sua “verdade” às demais, ameaçando: “Não duvida hein! Quem duvida, perde a vida, come casca de ferida”.

Corro o risco de abrir a ferida, mas duvido. Data vênia, eu du-vi-do. De-u-du-vê-i-vi-dê-o-dó macaxeira mocotó! Eu, os Gaviões da Fiel e toda a torcida do Flamengo. Caso essa aversão existisse, o STF não teria proibido, por sete votos a dois, que se investigue e se puna os criminosos que torturaram presos políticos no período da ditadura militar. Se a aversão existe, ou ela não é assim tão “profunda”, ou então foi maior o medo de manifestá-la através do voto.

O STF foi acionado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que questiona a amplitude da Lei da Anistia por entender que ela não pode beneficiar quem é pago pelo Estado e, no exercício de suas funções, comete crimes hediondos como tortura, estupro, assassinato, ocultação de cadáver. Isso não é delito político, é bandidagem cometida à sombra do poder.

Esse foi também o entendimento dos ministros Ayres Brito e Ricardo Lewandowski. Os dois sim, com o voto, mostraram “profunda aversão” à tortura, mas foram vencidos. “Certos crimes são, pela sua natureza, absolutamente incompatíveis com a ideia de criminalidade política por convicção. Um crime político pressupõe um combate ilegal à estrutura jurídica do Estado. O torturador não é um ideólogo. Ele não comete nenhum crime político. É um monstro, um desnaturado, um tarado” - declarou Ayres Brito.

Na mesma linha de raciocínio, Lewandowski lembrou que a tortura é crime imprescritível segundo a Constituição de 1988 e de conformidade aos acordos internacionais assinados pelo Brasil que obrigam a punir violações aos direitos humanos. Portanto, agentes do Estado que tenham cometido atrocidades devem ser processados. “A análise sobre a motivação política ou não do crime caberia ao juiz ou ao tribunal encarregado do caso” - argumentou o ministro.

Casca de ferida

Dois ministros não votaram: Dias Toffoli, que se julgou impedido e Joaquim Barbosa, que está de licença médica. Do primeiro, nada esperemos. Quer mostrar serviço, já disse a que veio, rimaria e votaria com a maioria. O segundo, certamente, seria o terceiro voto contra a tortura. É por isso que muita gente no Brasil está rezando pela saúde do negão, reverenciado por todos nós por sua sensibilidade e senso de justiça.

Por que ministros íntegros, que manifestam retoricamente “profunda aversão” à tortura, votam contra o julgamento dos torturadores? Hic culum cotiae sibilare como nos ensina o direito romano. É aqui que o fiofó da cotia assovia, porque eles justificaram seu voto de forma estranha para leigos como eu e tu, leitor (a). Parece até um voto envergonhado. É melhor ouvi-los um pouco, através de trechos de suas declarações publicadas nos jornais:

Eros Gueiros, o relator, ele mesmo vítima das arbitrariedades: “A anistia não foi ampla, pois beneficiou torturadores, mas excluiu militantes que haviam sido condenados pelos tribunais militares. No entanto, esse foi o acordo possível à época. A lei da anistia não é uma regra para o futuro, dotada de abstração e generalidade. Há de ser interpretada a partir da realidade no momento em que foi conquistada”.

Carmen Lúcia: “A lei (da anistia) não é tão justa como poderia ter sido, pois beneficia torturadores. Nem sempre as leis são justas, embora elas sejam criadas para ser”.

Peluso: “Os crimes cometidos na ditadura já estão prescritos e, portanto, imunes a qualquer punição”.

Celso de Mello: “A Constituição de 1988 estabelece que tortura é crime imprescritível, mas a lei da anistia é anterior a esta data e, portanto, não poderia ser examinada sob essa ótica”.

Ellen Gracie: “Anistia significa esquecimento, desconsideração intencional e perdão a ofensas passadas. E, como instrumento de pacificação a anistia deve ser necessariamente mútua”.

Por fim, a pérola do ministro Marco Aurélio de Mello, o primo do Collor de Mello: “Anistia é ato abrangente de amor, sempre calcado na busca do convívio pacífico entre os cidadãos”. Sem comentários sobre esse sólido argumento jurídico, porque seu autor tem legitimidade para fazê-lo. De qualquer forma, foi assim que o STF determinou o arquivamento da tortura.

Tortura arquivada

A decisão do STF, no entanto, foi reprovada pelo Comitê contra a Tortura da ONU, formado por juristas de renome internacional, vindos de todo o mundo. A alta comissária da ONU para direitos humanos, Navi Pillay criticou: “Essa decisão é muito ruim. Não queremos impunidade e sempre lutaremos contra leis que proíbem investigações e punições”. Ela entende do riscado, porque foi ela que julgou os crimes de guerra da Ruanda no Tribunal da ONU.

Os juristas da ONU deploram que o Brasil esteja seguindo uma direção diferente ao que ocorre na Argentina, Uruguai, Colômbia, Peru e outros países latino-americanos, que decidiram investigar a tortura cometida durante as ditaduras militares. “Leis de anistia foram tradicionalmente formuladas por aqueles que cometeram crimes e se concederam um auto-perdão que o século XXI não pode mais aceitar” - afirmou o jurista Fernando Mariño, acrescentando: “O Brasil está ficando isolado”.

Dessa forma, o Brasil deixou de afirmar com clareza para si mesmo e para o mundo que é contra a tortura. Não é convincente afirmar que daqui pra frente somos contra a tortura, quando daqui pra trás deixamos os torturadores em paz. Não dá para aceitar a filosofia do quem-comeu-comeu: quem torturou, torturou, está perdoado, mas quem não torturou, não tortura mais.

O ministro da Defesa Nelson Jobim e o deputado Aldo Rebelo, que ultimamente têm se manifestado sempre contra os índios, os sem-terra, os fracos, elogiaram a decisão. “Mexer na anistia seria reabrir velhas feridas sem ganhar nada em troca”, declarou Jobim à Folha de São Paulo. Pois é, né, o que é que a gente ganha punindo os torturadores? Só incompreensão da extrema direita e da área militar. Não vale a pena.

A questão não é o que ganhamos, mas o que perdemos. A impunidade de ontem estimula os torturadores de hoje. Nos últimos quinze dias, só em São Paulo foram registrados quatro casos de tortura, um deles provocou a morte de um motoboy, um trabalhador, cuja bicicleta havia sido roubada. O torturado de outro caso está em estado grave: levou uma coronhada, que afundou seu crânio. Os três torturadores não foram identificados, porque “a PM não colabora”, segundo o delegado que investiga o crime.

A aversão à tortura como um crime hediondo não pode funcionar só após 1988. Ela tem que ser permanente. Isso exige uma condenação clara dos torturadores, justamente para impedir que ela continue sendo praticada no país. Foi o que aconteceu na Argentina, onde os torturadores estão em cana, inclusive Reynaldo Bignone, o último general-presidente, que está com 82 anos e na semana passada foi condenado a 25 anos de prisão. Os argentinos sabem, agora, que quem tortura é punido.

Ninguém quer que se fuzile ou se torture os torturadores. A gente só quer saber quem são eles, quer que sejam identificados e julgados, com amplo direito de defesa, evitando que os crimes que praticaram sejam sepultados no esquecimento. A gente quer que a sociedade brasileira combata a tortura, em vez de conviver pacificamente com ela, de relativizá-la ou de justificá-la.

Se a ONU inventasse um Índice de Desenvolvimento Desumano (IDD), da mesma forma que tem o Índice Desenvolvimento Humano (IDH) o Brasil certamente iria ocupar um dos últimos lugares, depois dessa decisão do STF. O IDD do Brasil está lá embaixo.

P.S.: Ora veja. Quem acredita na Veja? Reproduzo aqui a nota enviada pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro:



“Aos Editores da revista Veja:

Na matéria “A farra da antropologia oportunista” (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010), seus autores colocam em minha boca a seguinte afirmação: “Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original” . Gostaria de saber quando e a quem eu disse isso, uma vez que (1) nunca tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma. Na verdade, a frase a mim mentirosamente atribuída contradiz o espírito de todas declarações que já tive ocasião de fazer sobre o tema. Assim sendo, cabe perguntar o que mais existiria de “montado” ou de simplesmente inventado na matéria. A qual, se me permitem a opinião, achei repugnante. Grato pela atenção,

Eduardo Viveiros de Castro”

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti . Foto: Milon/Divulgação




domingo, 9 de maio de 2010

Revista Veja é lixo, produto do sub-jornalismo marrom, que desinforma


Altino Machado às 6:20 am


POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

Supunhetamos, leitor (a), que você é jornalista e recebe pelo Correio um dossiê com comprovantes indicando que o ex-governador Paulo Maluf (ou o prefeito de uma capital do norte do país) roubou US$ 50 milhões e depositou tudo num paraíso fiscal. Os documentos -você percebe logo- foram grosseiramente falsificados. O que você faz? Joga tudo no lixo ou, ignorando a fraude, publica seu conteúdo como se fosse informação correta?

Essa pergunta feita no primeiro dia de aula sempre gerava polêmica no Curso de Jornalismo entre alunos da disciplina Ética e Legislação na Mídia que ministrei durante anos seguidos na Universidade Federal do Amazonas e, depois, na UERJ.

De um lado, estudantes mais afoitos justificavam: “O dossiê é falso, mas nos faz chegar a uma conclusão verdadeira: a de que Maluf é ladrão. Portanto, devemos publicá-lo, porque assim estaremos escrevendo certo por linhas tortas. No frigir dos ovos, o uso dessa mentira acaba deixando o leitor com a informação certa”.

Embora igualmente antimalufistas, outros alunos mais escrupulosos discordavam. Diziam: “se existe desconfiança de que Maluf é um ladrão de casaca -e as evidências são muitas- o repórter deve procurar provas do delito. Esse é o trabalho do jornalismo investigativo, que deve apresentar fato por fato e não vender fato por lebre. Inventar ou aceitar provas forjadas mesmo contra o pior crápula não é jornalismo. Quem renuncia à apuração dos fatos, engana os leitores, é um profissional incompetente e imoral.”

Esse parece ser o caso dos jornalistas da revista Veja Leonardo Coutinho, Igor Paulin e Júlia de Medeiros, que na semana passada assinaram uma reportagem encomendada intitulada “A Farra da antropologia oportunista”. Com uma diferença: como o dossiê falso não lhes foi remetido pelo Correio, eles saíram à caça não dos fatos, mas da lebre. O que nos faz pensar que aí tem dente de coelho.

Eles juram -mas não querem ver suas respectivas mães mortinhas no inferno se estiverem mentindo- que durante um mês visitaram onze municípios em sete estados, percorreram mais de 3 mil quilômetros de carro e barco e entrevistaram 70 pessoas em busca de fatos. Encontraram lebres. Não viram nem conversaram, por exemplo, com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, mas registraram declarações que ele nunca deu e que são exatamente o contrário de tudo aquilo que escreveu.

Mentiram pra cacete. Nem sequer uma vírgula ou um ponto de exclamação da matéria são verdadeiros. É tudo lorota! Entrevistas inventadas, números manipulados, informações fantasiosas, dados falsos, provas forjadas, fabricação de fatos. Tudo isso a troco de quê? Só a questão da luta pela terra pode ajudar a explicar tamanha agressão aos fatos e tanta falta de pudor.

Terra à vista

Desde o grito dado por Cabral, tudo se resume à briga pela terra. Durante quase cinco séculos, armados até os dentes, os colonizadores, os bandeirantes, as frentes expansionistas invadiram, saquearam, pilharam, usurparam, deceparam e ocuparam os territórios indígenas, sempre protegidos pela lei do mais forte. No entanto, em 1988, com o processo de redemocratização, a Constituição -lei maior do país- deu um basta a essa violência que passou a ser ilegal, quando cometida.

O novo pacto funciona mais ou menos assim. É como se o Estado dissesse aos índios: vocês perderam 87% de seus territórios e não é mais possível recuperá-los. O que perderam, perdido está. Nós nos comprometemos, porém, de que a partir de agora ninguém mais tirará aquilo que sobrou. Daqui pra frente, tudo vai ser diferente, o brasileiro vai aprender a ser gente, respeitando as terras dos índios que resistiram ao extermínio.

A Constituição, nesse caso, afetou os interesses econômicos que a revista Veja representa. Quem quer se apropriar do resto das terras indígenas ficou inconformado com esse novo pacto, que garante aos índios não a propriedade -que continua a ser da União- mas o usufruto permanente das terras mantidas até aqui. Por isso, a revista desencadeou uma campanha organizada para questionar o lugar que as populações indígenas ocupam hoje na sociedade brasileira.

A estratégia discursiva é bem primária. Veja jura que as terras ocupadas por “falsos índios” ou por “ex-indios’ “diminuem ainda mais o território destinado aos brasileiros que querem produzir”. Reforça, assim, o preconceito de que os índios são improdutivos e preguiçosos. Insiste na falácia de que as terras indígenas -que são propriedade da União- arrancam um pedaço do Brasil, mutilam a pátria. O Brasil da Veja fica pequenininho, sem 77,6% que constituem áreas de preservação ecológica, reservas indígenas e antigos quilombos que, para a revista, foram subtraídos do país.

Como nenhum cientista social assina embaixo de tal babaquice, Veja ataca então os antropólogos, acusando-os de serem os inventores desses “índios falsos”, juntamente com alguns padres, indigenistas e ONGs. Os três repórteres advogam uma pureza racial, quando decidem, por conta própria, que os Tupinambá e os Pataxó da Bahia não são índios por existir entre eles casamentos com “negros, mulatos e até brancos de cabelos louros”, como se índio fosse um modo de parecer e não um modo de ser.

Se os Pataxó e os Tupinambá são “falsos índios”, então podemos dizer que Victor Civita e Roberto Civita são falsos brasileiros, em função dos seus laços com a Itália e os Estados Unidos? A comunidade científica nacional fica tão estarrecida com isso quanto ficou com um fator sanguíneo -o “Fator Diego”-, que os coronéis da Funai, na época da ditadura militar, queriam instituir como referência para determinar a pureza racial dos índios.

Racismo na mídia

Numa interessante análise sobre o racismo na mídia, publicado em 1997, o pesquisador Van Dijck critica o tratamento que a imprensa européia dispensa às minorias étnicas. Ele questiona o principio da neutralidade e da objetividade dos meios de comunicação e propõe que a imprensa seja estudada como uma instituição social submetida a um conjunto de demandas políticas, sociais, econômicas e técnicas. Dessa forma, a imprensa deve ser pensada menos como um lugar neutro de observação e mais como uma voz ativa, como um agente produtor de imagens e representações.

Van Dijck, em sua análise, privilegia as manchetes e títulos de reportagem, considerando-os elementos indicados dos tópicos relevantes da informação, orientando a leitura na construção de significados. Os subtítulos da reportagem da Veja, nesse sentido, são muito sugestivos: “os novos canibais”, “lei da selva”, “um país loteado”, “macumbeiros de cocar”, “made in Paraguai”, “índio bom é índio pobre”.

Como sinalizou com indignação a nota oficial da Associação Brasileira de Antropólogos (ABA), assinada por João Pacheco, o repórter da Veja não faz “qualquer esforço em ser analítico, em ouvir os argumentos dos que ali foram violentamente criticados e ridicularizados. A maneira insultuosa com que são referidas diversas lideranças indígenas e quilombolas, bem como truncadas as suas declarações, também surpreende e causa revolta e explicitam o desprezo e o preconceito com que foram tratadas tais pessoas”.

O objetivo da revista é mobilizar opiniões contra os direitos indígenas, que são apresentados como se fossem “privilégios”. Para isso, acionam os estereótipos historicamente operantes sobre o índio, para dar cor e sensacionalismo à narrativa. Chegam a inventar que os índios guarani da Aldeia Morro dos Cavalos, em Santa Catarina, são falsos índios, vieram do Paraguai. Veja acha que índio é como uísque: se veio do Paraguai, é falso.

“Nós não precisamos provar quem somos. A própria história, construída pelos não indígenas, identifica o povo guarani como etnia tradicional desta terra. O povo guarani nunca desrespeitou a propriedade alheia; ao contrário, sempre foram usurpados de suas terras, impedidos de desenvolver seu modo de vida e cultura” - declarou, indignado, em nota oficial, o cacique de M’Biguaçu, Hyral Moreira. A nota critica “reportagem tendenciosa e preconceituosa” e lamenta que “os autores desta reportagem, em passagem por nossa região”, não ouviram os representantes da cultura guarani.

Nesse momento, estou no interior do Rio Grande do Sul, ministrando curso para professores indígenas. No intervalo, escrevo a coluna. Morri de vergonha ao ler junto com os índios a reportagem da Veja. Seu conteúdo, carregado de preconceitos, é mentiroso, ofensivo e elimina aquilo que eu estou vendo diante de mim. Um índio guarani do Morro dos Cavalos, cuja existência é negada pela revista, me tranquilizou:

-Nda’orerexai ramo ndoroexai avi - ele me disse em sua língua. Pedi que traduzisse:

-Se a Veja não nos vê, nós também não vemos a Veja.



É isso ai. Há muito tempo eu também não vejo a Veja. Desculpem a linguagem: Veja é um lixo, um produto do sub-jornalismo marrom, que contribui para desinformar seus incautos leitores.

P.S.: Agradeço as indicações dadas pela antropóloga Maria José Alfaro Freire, cuja dissertação de mestrado (PPGAS-UFRJ) - “A construção de um réu: Payakã e os índios na imprensa brasileira” - analisa o papel da VEJA e dos jornais de circulação nacional na acusação de estupro dirigida ao índio kayapó Paulinho Payaká em junho de 1992.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra




domingo, 23 de maio de 2010
Generais podem obedecer as ordens de uma mulher
"Altino Machado às 9:22 am POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

- Em quem a sua mulher vai votar? – perguntou a Folha.

- Em quem eu mandar – respondeu rápido o general Maynard.

Macho! O general Maynard Marques Santa Rosa é macho! Macho pacas! No diálogo acima, ele mostra quem é que manda. Concedeu longa entrevista a dois jornalistas da Folha de S. Paulo, publicada nessa segunda-feira, dia 17 de maio, numa página inteira, sob o título: “Governo Lula quer implantar ditadura totalitária no país”, com um box: “Democracia com limite até em casa”.

É engraçado. Por um lado, o general vê “anseio totalitário” no governo Lula, do qual discorda, por considerá-lo “intolerante e autoritário”; por outro, sem qualquer pudor ou desconfiômetro, anuncia que ele é quem manda no voto de sua esposa, dona Luiza Philomena Gonçalves de Santa Rosa. O diabo, no entanto, é que nessa eleição ele está perdidinho, não tem em quem votar, não sabe quais ordens dar à sua mulher.

- Na Dilma não voto de jeito nenhum, mas não é fácil engolir o Serra – ele diz. Justifica alegando que até agora não se sabe “quantas pessoas Dilma Rousseff assaltou, torturou, matou’… e quando a Folha argumentou que “até onde se sabe, ela não matou ninguém”, o general declarou levianamente: - “É o que ela alega. Sabe-se que tem vítima”. Quanto ao Serra, o general aceita a pergunta formulada pelos jornalistas: ele é difícil de engolir, porque “foi presidente da UNE, exilado no Chile…”

- E a Marina Silva? – pergunta a Folha, depois do descarte dos dois principais candidatos. Ah, o general também não vai mandar sua mulher votar em Marina, porque a candidata do PV “tem uma visão de Amazônia igual à da Fundação Ford, igual à dos americanos. É uma visão internacionalista”. Quem diz isso, curiosamente, é o general cuja cabeça foi feita pelos americanos no Curso de Política e Estratégia do Army War College, nos Estados Unidos, onde ele estudou em 1988-89.

Carta do coronel

É inacreditável! Um general, que até fevereiro deste ano ocupava o cargo estratégico de chefe do Departamento de Pessoal do Exército, pensa como um troglodita, sem querer com isso ofender o troglodita. E muito menos o general, que se comporta como a Carolina do Chico Buarque: o tempo passou na janela e ele não viu. O mundo mudou, o Brasil se transformou, mas o general, agora de pijama, continua vivendo em plena ‘guerra fria’. Não está entendendo bulhufas do que está acontecendo.

Na entrevista, o general Santa Rosa, 66 anos, na reserva desde o dia 31 de março passado, desembainhou a espada para atacar os fatos. Jurou que durante a ditadura “a imprensa foi amplamente livre”, que “nenhum militar torturou ninguém”, que “os chamados subversivos foram justiçados e torturados por eles próprios, porque queriam mudar de opinião”. Quanto escárnio de quem, como segundo tenente da Infantaria, integrou a Equipe de Buscas do famigerado DOI-CODI do Rio de Janeiro, como indica seu currículo!

Não é a primeira vez que o general Santa Rosa infringe o Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), que proíbe “manifestar-se, publicamente, sem que seja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária” e “censurar ato de superior hierárquico ou procurar desconsiderá-lo, seja entre militares, seja entre civis”. Quando ele era chefe da Secretaria de Política e Estratégia e Assuntos Internacionais (SPEAI) do Ministério da Defesa se insubordinou em relação à demarcação da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol.

Agora, o general ataca o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH), que – segundo ele - “estimula a homoafetividade” e contribui para a “degradação dos costumes à revelia da tradição cristã que temos”. Perguntado se conheceu muitos gays nas Forças Armadas, respondeu que não, que “existe uma rejeição inata da estrutura militar contra isso”. Alertou que “isso tudo é uma composição organizada, uma conspiração internacional”.

A declaração do general Santa Rosa, que foi chefe da Divisão de Contra-Inteligência do CIE do Exército, faz jus ao cargo que ele ocupou. Dessa forma, ele reforça o discurso dos generais Leônidas Pires e Newton Cruz a Globo News no mês passado. Toda noite, antes de dormir, esses generais devem verificar, com uma lanterna, se tem algum jacaré comunista debaixo de suas respectivas camas.

Quem entrevistar

Na cabeça do general Santa Rosa, que fez o Curso de Guerra na Selva (1969), é tudo culpa da bicharada e dos comunistas, que estão solapando a tradição cristã. Suas “revelações proféticas” foram bem acolhidas no blog do Pastor Daniel Batista, da Igreja Cenáculo da Fé, para quem elas vieram confirmar aquilo que já sabia: “Recebi do Senhor Jesus a revelação de um eventual golpe de Estado no Brasil (Governo Lula), cujo processo ditatorial-político iniciaria até abril de 2009 – diz o pastor.

Mas a cumplicidade do pastor não resolve o problema do general: não ter um nome – umzinho só - em quem votar. O coronel colombiano, personagem do romance de Gabriel Garcia Márquez, não tinha quem lhe escrevesse, enquanto o general brasileiro Maynard Marques Santa Rosa não tem em quem votar para presidente da República e, portanto, não sabe como ordenar o voto de sua esposa.

O jornalismo brasileiro dará uma grande contribuição à democracia e à vida política do país no dia em que entrevistar não um general machão e fanfarrão, com suas bravatas, suas bazófias e sua visão maniqueísta do mundo, mas as mulheres dos generais. Seria muito bom ouvir dona Luisa Santa Rosa, ela podia nos revelar coisas que o Brasil desconhece. Confio muito mais na sua intuição e na sensibilidade feminina do que na arrogância do general.

Nós estamos carecas de ler entrevistas de generais. O grande furo jornalístico seria uma entrevista com dona Luísa e com tantas luísas, silenciadas, caladas, com o discurso seqüestrado e a fala presa na garganta. São elas que constroem com seu trabalho cotidiano esse país, educando os filhos, organizando a economia doméstica, dando apoio logístico e às vezes até, fingindo, quem sabe, que vota em quem o marido ordena. Afinal, o voto é secreto.

Se o general, que não deve saber fritar um ovo nem pregar um botão numa camisa, também não sabe em quem votar, devia perguntar à sua mulher. Por que não ouvi-la? Em quem ela gostaria de votar? Talvez ela saiba com mais lucidez que o general o que é melhor para o Brasil.

Da minha parte, aqui na minha casa, a conspiração internacional já ganhou. Não tenho vergonha de confessar: aqui funciona o matriarcado, pois quem decide o meu voto é a patroa e as minhas nove irmãs mulheres, com quem já iniciei o processo de consulta.

Ainda bem que o general não tem em quem votar para presidente da República na próxima eleição. Essa é a melhor notícia que o Brasil pode ter. O terrível seria se ele tivesse várias opções, como ocorreu durante o período da ditadura militar quando eles decidiam sem consultar a população. Agora, por ironia, no próximo governo, existe a possibilidade de que eles sejam obrigados, talvez, a obedecer as ordens de uma mulher.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra

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