sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Marlui Miranda - Kworo Kango

Juliana Paes - mulher gostosa prá começar bem o ano novo





















e assim começamos um novo ano...

Em Feitio de Oração

Gilberto Gil, ao longo de sua carreira, sempre oscilou entre álbuns em que explicita sua veia pop e outros em que tende para uma “brasilidade” mais explícita. Em 1998, foi à Noruega gravar, junto com Marluí Miranda, cantora e pesquisadora da música indígena (mas não só indígena) do Brasil, um de seus trabalhos mais ligados diretamente à cultura popular, O Sol de Oslo. E neste álbum Gil gravou Kaô.
Kaô – ou melhor, Kawó-Kabiesilé, é a saudação a Xangô, orixá de diversas religiões africanas e brasileiras. A saudação a um orixá tem significados e funções rituais importantes, mas dificilmente seria ouvida da maneira como Gil a faz nesta música.
Kaô, a música, é, em espírito, um ponto de umbanda. Um ponto é formado por uma ou duas quadras, raramente mais, com estrutura simples, em louvor de um orixá, podendo conter em si a saudação, ou contar um pouco de sua história lendária. No ritual, tem o objetivo de evocar as forças correspondentes àquele orixá, sugestionando o médium, que geralmente dança enquanto ele é cantado, induzindo ao transe e movimentando as energias correspondentes para permitir a incorporação.
Mas a interpretação de Kaô não é a de um ponto, que é acompanhado ritmicamente, de forma tradicional, por palmas ou atabaques. Kaô é cantado de forma intimista, reverente, no tom mais suave possível. A atmosfera do arranjo, com teclados etéreos e uma percussão de efeitos e não de marcação, sugere uma introspecção mais próxima de uma missa do que de uma gira. Pela repetição da saudação ao longo de toda a música, tem-se muito mais a impressão de mantra que de ponto.
Mas a estrutura de Kaô não é nem de ponto nem de mantra. Um mantra tem como característica básica a repetição, não apenas da letra, mas também da melodia. A estrutura da música oriental, que esmiuço um pouco mais aqui, implica em repetição, mas também em infinita variação improvisativa em torno do tema original, propositalmente bem simples. A música ocidental, em oposição, tem como característica a introdução de um tema, que é desenvolvido em variações pré-estabelecidas, com mudanças de altura e tom, ornamentações, mudanças de voz etc. As duas primeiras, especialmente, são usadas no formato canção. O motivo inicial é repetido mais agudo, ou mais grave, modulado para um tom vizinho, e estas mudanças pequenas dão ao mesmo tempo a impressão de desenvolvimento e de familiaridade ao ouvinte.
Pois é exatamente o que Gil faz. Kaô tem o formato clássico da canção: o tema é apresentado na sequência inicial de 5 obá; é repetido uma terça abaixo, depois desce mais uma terça, sempre no mesmo tom. A segunda estrofe se inicia uma quarta acima da primeira, caracterizando a ida ao tom vizinho da subdominante, agora com adaptações melódicas que provocam súbitos mergulhos da voz; o ciclo de descida por terças se repete nesta nova altura. Mais tarde, a canção vai decisivamente para a subdominante, mas mantém o mesmo tema melódico, agora bem agudo (como num clímax) e com a letra kabiesilé, antes realizar uma ponte de modulação e reafirmar o tema pela última vez, terminando com um salto de quarta ascendente que reforça a volta à tonalidade e termina a canção na nota fundamental.
Então Kaô é canção. Mas é mantra. Mas é ponto de umbanda. Na canção título de seu disco gravado em Oslo, Gil explicita a sincretização Xangô/ Thor, deuses do raio e do trovão, como Tupã, como Zeus. A miscigenação de Gil não é apenas ética, mas se materializa em estética. O resultado é uma prece de pouquíssimas palavras, uma saudação não a um orixá, mas à força transcendente que ele representa, uma mentalização do simbólico.
Kaô – Gilberto Gil
Mônica Salmaso também gravou Kaô, em seu álbum Nem 1 Ai. Deixo também a gravação, feita dentro do mesmo espírito mas com diferenças sutis e belas, para quem quiser conferir.
 

Festa Folia de Reis

O que é o Reisado

CONCEITO, ORIGEM, PERSONAGENS, VESTIMENTA, EPISÓDIOS, ACOMPANHAMENTO, LOCALIZAÇÃO.
:. CONCEITO
Auto popular, profano-religioso, formado por grupos de músicos, cantores e dançadores, que vão de porta em porta, no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, anunciar a Chegada do Messias, homenagear os Três Reis Magos e fazer louvações aos donos das casas onde dançam. No Brasil, o Reisado é espalhado em quase todo o território com os nomes de Reis, Folias de Reis, Boi de Reis ou apenas Reisado. Sua principal característica é a farsa do boi, que constitui um dos entremeios ou entremeses, onde ele dança, brinca, é morto e ressuscitado. Portanto, no sentido estrito, são Reisados em Alagoas, além do próprio Reisado, o Bumba-meu-boi e o Guerreiro.

Marca alagoana dos Reisados é que no Estado ele sincretizou (misturou-se) com o AUTO DOS GONGOS, que por si próprio já era um Reisado.

:. ORIGEM
A tradição é portuguesa. Em Portugal era costume os grupos de Janereiros e Reiseiros saírem pelas ruas pedindo que lhes abrissem as portas e recebessem a nova do Nascimento de Cristo. Os donos das casas recebiam os grupos e a eles ofereciam alimentos e dinheiro.

:. PERSONAGENS
Rei, Rainha, Mestre ou Secretário de Sala, Contra-mestre, Mateus e Palhaços. Em outros grupos são: Rei, Rainha, Mestre ou Secretário de Sala, Contra-Mestre ou Vassalo, dois Embaixadores, Contra-Guia, Contra-Passo, Moçambiques, Bandeirinhas, Palhaços e Mateus.

:. VESTIMENTA
Saiote de cetim colorido, adornado de gregas douradas ou prateadas. Chapéu de abas largas, guarnecidas de espelhos redondos, flores artificiais e fitas variadas.

:. EPISÓDIOS
Marchas de Rua, Pedido de Abrição de Porta, Marchas de Entrada de Sala, Louvação aos donos da casa, Louvação ao Divino, Guerra e Retirada. O auto é entremeado com danças dramáticas como a Guerra e Totêmicas*, como a Farsa do Boi com a Característica: morte, repartição e ressurreição. Farsa do Jaraguá, do Diabo e da Alma, além de outros. Existem ainda as peças (danças cantadas) com motivos românticos e circunstânciais e as Embaixadas, que são partes declamadas.
(* Crença no parentesco entre o homem e certos animais e plantas)

1. PEDIDO DE ABRIÇÃO DE PORTA
Abris a porta
Se queres abrir,    — bis
Que somos de longe
Queremos nos ir.

2. PEÇA DE ESTILO ROMÂNTICO

Mandei fazê um bruquê prá meu amô
Mas sendo ele de bunina disfarçada.
Mas tem o brilho da estrela matutina,
Adeus menina sereno da madrugada.
Muito padece quem tem amor escondido
Padeço eu, por amor de uma donzela;
Uma saudade se incoloca no meu peito
Quando eu me lembro das feições do rosto dela.
3. PEÇA DE TEMA CIRCUNSTANCIAL
O tocador rufa a caixa e toca o bombo
Agora mesmo avistei sina de guerra,
Mas quando ouço a corneta toca,
Meus óio pega a chorá
Me lembro da minha terra.
Ó minha gente, ó pessoá de Princesa,
Porque não conta esta história bem contada,
O avião que o nosso reis mandou,
Antes do campo pousou    — bis
Num pôde tomá chegada.
4. PEÇA EM ESTILO RELIGIOSO POPULARÔ Biata Ô Biata Mocinha,
Me dizei pronde foi meu padrinho!
Meu padrinho, ele viajou,
Oi ele deixou, Juazeiro sozinho.

5. DESPEDIDA
Dono da casa,
Adeus que eu me vou
Até para o ano
Se nós vivo for.
:. ACOMPANHAMENTO
Harmónica (sanfona), Tambor e Pandeiro.


 Ô minha gente / Determinei



Dona Virgínia de Moraes, das Alagoas (como se diz por lá), foi mestra de Reisado, que é também a Folia de Reis, o Auto dos Congos, o Congado, o Boi-Bumbá, o Bumba-meu-boi, o Guerreiro –

Ô minha gente / Eu vi a nuvem girando / Eu vi o vento ventando / Eu vi a terra girar
Meu figurá / A Mestra Virgínia é peia / Quem anda na terra alheia / Pisa no chão devagar
e
Determinei subir no vento / Eu fui o país da lua / Arrecebi uma friagem tua / Eu vi a terra diferente
Mas o corisco ía passando de repente / Com o corisco eu me abracei / Voltei pra terra, eu aplantei / Aplantei pra nascer semente

Estou de volta das férias, com um poema de Carlos Drummond de Andrade

Olá pessoal

Primeiro queria agradecer a todas e todos que enviaram os cumprimentos de fim de ano. Podem ter certeza que precisamos deste retorno pois nos estimula a continuar. 
Segundo, sempre achei que esta questao de medir o tempo tem um papel importante. Nosso corpo sabe que depois de 5 ou 6 dias de trabalho é necessario um descanso. E, como é importante as ferias. E, como tambem é importante ter um ano que termina e o outro que se inicia para fazermos uma revisao de nossa atuaçao e nos planejarmos para o futuro. Posto este poema do grande mineiro, Carlos Drummond de Andrade, que repasso. É brilhante. 

Um abraço a todas/os desejando que continuemos juntos/as este ano. 



TEMPO
 


Carlos Drummond de Andrade
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de
 ano
,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente.

Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.

Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste
,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente.

Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!
 novo ano



"Quanto à virtude, não basta conhecê-la, devemos tentar também possuí-la e colocá-la em prática."
(Aristóteles)