quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Arte de Amar - Thiago de Mello


Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.


Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.



A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.



Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.



Fazer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)



de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.



O verbo exato é foder.



A palavra fica nua
para todo mundo ver




o corpo amante cantando
a glória do seu poder.

Thiago de Mello